Prefeitura do Rio usa empresa de ciclovia em emergências, não obras
As empresas Concremat, construtora da ciclovia que desabou na quinta (21),
matando ao menos duas pessoas, são rotineiramente contratadas pela Prefeitura do Rio justamente para evitar tragédias. Em quase metade dos casos por emergência, sem concorrência.
Elas são responsáveis por identificar áreas de risco em favelas, realizar obras de contenção de encostas, reforçar a estrutura de viadutos e mapear o subsolo para evitar explosões de bueiros.
Do total de 54 contratos assinados com três empresas do grupo (Concremat, Contemat e Concrejato) na gestão Eduardo Paes (PMDB), iniciada em 2009, 24 foram firmados por dispensa de concorrência, em acordos emergenciais. Eles representaram 30% do faturamento da empresa com o município, de R$ 409,3 milhões.
Faz parte dessa lista o reforço na estrutura do elevado do Joá, que liga São Conrado à Barra da Tijuca. Em 2012, o centro de pesquisa Coppe, da UFRJ, apontou degradação estrutural do viaduto.
A Concrejato, braço de reforço estrutural do grupo, foi contratada sem concorrência para executar o serviço, pelo qual recebeu R$ 66,6 milhões, segundo site da prefeitura.
Paes afirmou que vai contratar empresas externas "para checar e rechecar todos os projetos, independente da empresa". Mas elogiou trabalhos anteriores do grupo.
"[A empresa] tem tradição nesse tipo de obra", disse.
A Secretaria Municipal de Obras afirmou, em nota, que a maior parte dos contratos emergenciais refere-se a contenções de encostas após as chuvas de 2010 e 2011.
"Este tipo de serviço é uma das principais expertises da empresa e quando há este tipo de contratação é feito levantamento entre as construtoras que têm em seu portfólio obras semelhantes e a escolha é com base no menor preço oferecido", diz a nota. A Concremat afirmou que não iria se manifestar.
A empresa foi contratada 14 vezes sem concorrência desde 2009 para contenção de encostas. Recebeu R$ 41 milhões por esses serviços.
Ela ganhou licitação para realizar um amplo levantamento de casas em favelas em áreas de risco, após deslizamentos em 2010 causarem uma série de mortes.
É, desde então, a responsável por identificar as moradias em áreas de risco e indicar a melhor solução -obras de contenção ou reassentamento das famílias. Recebeu ao todo R$ 28 milhões pelo trabalho.
O grupo Concremat pertence à família do secretário municipal de Turismo, Antônio Pedro Figueira de Melo, que foi tesoureiro das últimas duas campanhas de Paes. Melo diz que nunca atuou pela empresa.
A prefeitura também recorreu ao grupo quando uma série de explosões de bueiros assustou a cidade em 2011. A Concremat foi contratada, sem concorrência, por R$ 2,8 milhões para mapear a rede das concessionárias no subsolo da cidade e detectar possíveis riscos de acidente.
A empresa foi responsável ainda por reforçar a estrutura de diversos viadutos e pontes no município.
O Concremat tem como negócio principal a elaboração de projetos, o gerenciamento de obras e consultorias. Está em segundo lugar na área, segundo a revista "O Empreiteiro".
A ciclovia da Niemeyer que desabou foi a única obra executada pela empresa, que não tem tradição como construtora -ela não está entre as 156 maiores do setor
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