Decadência do setor naval alimenta pessimismo no Leste Fluminense, aponta Firjan


Menos um. Estaleiro da Vard Niterói fechou as portas neste mês; até o fim do ano mais um suspenderá as atividades - Hermes de Paula


RIO - O pessimismo domina a indústria do Leste Fluminense. O sentimento é fortalecido pela crise no setor naval, que perdeu mais de sete mil empregos desde o início do ano no estado, e teve mais uma baixa neste mês com o fechamento do estaleiro Vard Niterói, e também pela paralisação das obras do Comperj. E a expectativa é de pelo menos mais seis meses de dificuldade na região, o que contraria o movimento dos empresários do estado do Rio em geral, que começam a demonstrar uma recuperação tímida do otimismo. Os dados, levantados em pesquisa feita pela Firjan de 1º a 13 deste mês, mostram que no Leste Fluminense — que abrange Niterói, São Gonçalo e outros 14 municípios —, a expectativa é de queda na compra de matéria-prima, nas exportações, na demanda por produtos e no número de empregados. A analista de estudos econômicos da Firjan Julia Pestana afirma que o cenário é o mesmo há mais de um ano.

— Eles estão pessimistas desde novembro de 2014, quando começamos a perceber queda na demanda por produtos industriais — diz ela. — Em relação às expectativas para os próximos seis meses, elas são negativas desde março de 2015. Empresários não esperam comprar matéria-prima porque não veem expectativa de demanda.

Ociosidade e dificuldade de acesso ao crédito

Nem o anúncio do presidente da Petrobras, Pedro Parente, de que retomaria as obras do Comperj, feito em junho, conseguiu reanimar o empresariado local. Enquanto isso, no estado, a melhoria de expectativas está relacionada ao câmbio, já que a desvalorização do real frente ao dólar facilita as exportações. De quatro indicadores de expectativa para o próximo semestre, dois entraram no terreno do otimismo pela primeira vez em dois anos: o de demanda por produtos e o de exportação. O primeiro ficou com 50,9 pontos; o segundo, com 52,2. Pela metodologia da Firjan, qualquer índice acima de 50 numa escala que vai de 0 a 100 sinaliza otimismo. Os mesmos indicadores, no caso do Leste Fluminense, ficaram em 41,1 e 36,1, respectivamente.

A pesquisa da Firjan indica que, com a demanda fraca, o Leste Fluminense está gastando os estoques acumulados, em vez de apostar em produção. A utilização da capacidade instalada da indústria está em 48%, abaixo da média histórica de 64,5%. Também já é o nono mês seguido em que o setor relata piora na situação financeira. De todos os indicadores, o pior é o de acesso a crédito, que de 0 a 100 ficou em 15,5 pontos.

— Quando se está em situação ruim, é necessário acesso a crédito. Até para renegociar dívidas — explica Julia. — As empresas não estão conseguindo isso, em parte, porque a inadimplência é uma preocupação grande no estado.

Expectativa de mais demissão até o fim do ano

Um dos principais motores da indústria do Leste Fluminense, o setor naval está parando. Este mês, o estaleiro Vard Niterói interrompeu de vez suas atividades na Ilha da Conceição. O estaleiro, que empregava cerca de 300 pessoas, transferiu suas operações para Pernambuco. Até o fim do ano, o Estaleiro Aliança, no Barreto, também entregará o último navio de sua carteira.

O Sinaval, sindicato que reúne as empresas de reparação e construção de navios, aponta que em seis meses o Sudeste perdeu 7.486 vagas, quase um terço dos 24.296 empregos que tinha em janeiro deste ano. O presidente, Ariovaldo Rocha, não arrisca prever como estará o setor em seis meses:

— No Sudeste, a redução de emprego ocorre por paralisação de estaleiros de Niterói e Rio. Não é possível prever novos acontecimentos no momento.

Procurada, a Vard disse que não se manifestaria e orientou que a equipe de reportagem procurasse o Sinaval. O Estaleiro Aliança esclarece que o último navio será entregue em setembro e não há novas encomendas. “O estaleiro vai continuar com suas atividades relacionadas ao apoio marítimo e avaliando possibilidades de utilização das suas instalações”, informou, em nota.

A situação afeta toda a cadeia da economia. Fernando Reis, presidente da ATBL Artefatos de Borracha, empresa sexagenária de Niterói que tem entre seus principais clientes o setor naval, teme que o segundo semestre será o pior período:

— Estamos no vermelho há quatro meses.

Para o secretário municipal da Indústria Naval, Petróleo e Gás, Luiz Paulino Moreira Leite, um alívio para o setor pode vir no ano que vem, com a licitação para dragagem do Canal de São Lourenço. Para acelerar o processo de obtenção da licença ambiental junto ao Inea, a prefeitura assumiu os gastos com o Estudo de Impacto Ambiental (EIA/Rima) requerido pelo órgão, cujo custo estimado, diz Leite, é de R$ 700 mil.

A dragagem, orçada em R$ 300 milhões bancados pela União e com prazo de conclusão de um ano, permitirá que estaleiros da região recebam navios maiores para reparo. O secretário reconhece, porém, que no horizonte dos próximos seis meses, não há alívio previsto.

— (Solução) de curto prazo mesmo, só se a Petrobras voltar a encomendar — diz.

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