Filas no Galeão podem crescer com fim de terminal


Fila no Terminal 1 do Tom Jobim, que será fechado no mês que vem. Concessionária alega ociosidade - Simone Marinho





RIO - Com a desativação do Terminal 1 do Aeroporto Tom Jobim/Galeão, no próximo mês, passageiros temem que haja desconforto e filas para despachar bagagens e fazer check-in, já que tudo ficará concentrado no Terminal 2. Segundo a RIOGaleão, havia 179 posições de check-in, quando a concessionária assumiu o aeroporto, em 2014, considerando os dois terminais. Quando a migração das companhias aéreas para o Terminal 2 tiver sido concluída em novembro, serão 174 posições.

— A agência reguladora terá de ficar atenta. Os concessionários têm obrigação de cumprir parâmetros de qualidade, como tempo de check-in — disse o professor de Transporte Aéreo da Escola Politécnica da USP, Jorge Leal.

O presidente da concessionária RIOgaleão, Luiz Rocha, nega que haverá qualquer desconforto. A previsão do fluxo de passageiros para este ano é de 16 milhões — ou 44% da capacidade atual, de 36 milhões. De acordo Rocha, apenas quando for atingida essa marca haverá necessidade de reabilitar o Terminal 1. Em outras palavras, para que ele seja reativado, será preciso que a movimentação de passageiros mais que dobre, o que não deve ocorrer antes de 2030, na avaliação de especialistas.

A RIOgaleão alega que as obras feitas na ampliação de capacidade do aeroporto foram exigência contratual. A concessionária assumiu o Galeão em maio de 2014, com o compromisso de entregar essas obras antes dos Jogos Olímpicos. A desativação do Terminal 1, com a concentração dos embarques e desembarques no Terminal 2, já estava prevista justamente porque a demanda não justificaria manter os dois terminais em funcionamento. Além disso, diz Rocha, havia a preocupação de oferecer um serviço melhor ao passageiro, em um terminal mais moderno.

— Para que o Terminal 1 seja reativado, será necessário que a demanda esteja próxima à capacidade atual. E isso só vai acontecer quando a economia voltar a crescer — afirma Rocha, sem arriscar prazo.

Segundo ele, enquanto a marca não for atingida, a ideia é usar o espaço para outras funções, com o objetivo de ampliar a receita da companhia, como a abertura de lojas, escritórios comerciais e até uma universidade. Rocha admite que o fechamento do terminal vai proporcionar redução de custos com luz e manutenção, por exemplo. Um alívio para a empresa, que viu seu faturamento cair com o recuo no fluxo de passageiros e enfrenta dificuldades para honrar o pagamento das outorgas.

O que especialistas se perguntam é por que ampliar tanto a capacidade num aeroporto que estava ocioso há anos. Para Leal, o modelo de concessão foi falho ao prever obras de ampliação sem gatilho, ou seja, sem que houvesse uma evolução na movimentação de passageiros que a justificasse.

— Foi um modelo que só beneficiou construtoras. Em muitos casos, as empreiteiras pertenciam ao mesmo grupo das empresas vencedoras — disse Leal. — A demanda não deve chegar à capacidade atual antes de 2030.

A RIOgaleão reúne a estatal Infraero (49%) e sócios privados — a Odebrecht Transport e a Changi, de Cingapura — que detêm 51%. A construtora Norberto Odebrecht encabeçou as obras no aeroporto.

CRISE AGRAVOU OCIOSIDADE

O esvaziamento do Galeão tem razões estruturais. O ponto de partida foi a abertura do Santos Dumont, que até 2008 atuava basicamente na ponte aérea Rio-São Paulo, além de manter voos para Minas Gerais e Brasília. Além disso, houve o fortalecimento dos hubs (centros de distribuição de voos) regionais, com conexões para Norte e Nordeste a partir dos aeroportos de Brasília e Confins (MG). E muitas aéreas internacionais passaram a fazer voos diretos para essas regiões, com o crescimento da demanda e os incentivos fiscais. No Rio, o ICMS para o querosene de avião é de 13%, sem reduções para atração de novos voos.

— A crise aprofundou esse processo. Guarulhos atende mais destinos, tem demanda maior devido à economia de São Paulo e quem voa para lá paga mais pelo bilhete, pois são viagens de negócios. Por isso, empresas aéreas priorizam o aeroporto paulista. A economia do Rio também sofreu um baque com a crise do petróleo — diz Alemander Pereira, da FGV Projetos.

Desde 2015, Aeroméxico e Air Canada cancelaram voos a partir do Galeão. A alemã Condor deve fazer o mesmo. Entre as nacionais, Azul e Latam cortaram voos. Na contramão, a Gol ampliou as frequências.

REFORMAS CUSTARAM R$ 120, 8 MILHÕES

Mês que vem, quando a área pública do Terminal 1 (T1) do Galeão for desativada, estará sendo fechada parte de uma estrutura que recebeu R$ 120,8 milhões da Infraero para reformas entre 2010 e 2014, sem citar modernizações feitas pela RIOgaleão desde que a concessionária assumiu sua operação, há dois anos. Os investimentos buscavam amenizar problemas do terminal antes da Copa do Mundo e da Olimpíada. Agora, muitas das melhorias ficarão inutilizadas, enquanto são estudados novos usos para o T1.

Segundo a Infraero — empresa pública federal que também integra o RIOgaleão —, no período imediatamente anterior à privatização foi totalmente reformado o desembarque doméstico do Setor A, com áreas de circulação mais amplas e quatro novas escadas rolantes. Foi reaberta também a área pública do desembarque, com cinco esteiras de restituição de bagagens. E no embarque do Setor A, guichês recém-modernizados já estavam vazios esta semana, embora com aspecto de novos.

Ao saber que serviços do T1 seriam desativados, a passageira Mirian Martinatto da Costa, que retornava com a família para Porto Alegre, lamentou:

— Como o terminal está hoje (depois da reformas), achei a infraestrutura boa. Acredito que podia continuar atendendo bem aos passageiros. 

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