Câncer de próstata: ressonância é duas vezes mais precisa que biópsia, diz estudo
23 de Jan 2017 | 15h35 - Ressonância magnética não é invasiva e é considerada um exame simples, já utilizado para diversos outros diagnósticos - Guilherme Pinto
RIO — Em vez de se submeter a uma biópsia, exame extremamente invasivo, os homens com suspeita de câncer de próstata poderiam (e deveriam) realizar uma simples ressonância magnética e ter o dobro de chances de detectar corretamente a gravidade do tumor, afirma um novo estudo publicado na "Lancet".
Os pesquisadores chegaram a esta conclusão após um grande ensaio clínico, feito com 576 homens. E especialistas acreditam que os resultados podem influenciar uma mudança de prática médica, já que este é considerado "o maior avanço no diagnóstico do câncer de próstata em décadas, com o potencial de salvar muitas vidas", ressaltou, por meio de um comunicado, a instituição Cancer UK.
O câncer de próstata é que mais assombra o sexo masculino em todo o mundo. No Brasil, é o segundo tipo de câncer mais comum entre os homens: um a cada 36 brasileiros morrerá dessa doença, de acordo com o Instituto Nacional do Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca).
BIÓPSIA DETECTA SÓ 48%
O estudo mostrou que uma ressonância magnética capta 93% dos cânceres agressivos na próstata, em comparação com 48% detectados em uma biópsia — que consiste na retirada de uma amostra de tecido para testes laboratoriais. As ressonâncias também tiveram maior sucesso na identificação de cânceres não agressivos, que quase não crescem e então não precisam ser tratados, uma vez que uma possível cirurgia será pior para a qualidade de vida do paciente do que se ele continuar com o tumor.
— O câncer de próstata tem formas agressivas e inofensivas. A biópsia que fazemos atualmente é imprecisa porque as amostras de tecido são tomadas ao acaso na próstata, aleatoriamente — explicou o autor principal do estudo, Hashim Ahmed, da University College London (UCL). — Isto significa que a biópsia pode não retirar a parte que de fato tem um câncer agressivo. E muitas vezes não consegue identificar se um câncer é agressivo ou não. Por isso, muitos homens que não têm câncer ou têm uma versão não agressiva acabam sendo tratados, porque recebem o diagnóstico errado. E isso pode atrapalhar a saúde deles, além de provocar efeitos colaterais como sangramento, dor e infecções graves.
O estudo também mostrou que mais de um quarto (27%) de todos os homens com suspeita de câncer poderiam evitar completamente uma biópsia. E isso é importante especialmente porque, segundo os médicos, alguns homens que realizam biópsia transretal guiada por ultra-som acabam sofrendo de sepse, uma grave infecção na corrente sanguínea que os faz correr risco de vida.
REINO UNIDO SE EQUIPA PARA NOVA PRÁTICA
Pelo Menos no Reino Unido, onde foi feito o estudo, a introdução da varredura por ressonância magnética como uma rotina no diagnóstico de cãncer de próstata já está a caminho. O Instituto Nacional de Excelência Clínica do Reino Unido, que dá orientações para os médicos sobre o tratamento mais adequado para os pacientes, já lançou uma revisão preliminar do diagnóstico de câncer de próstata, observando as evidências de um estudo anterior e está aguardando os resultados deste.
Alguns hospitais ingleses já estão oferecendo a ressonância antes de qualquer biópsia, mas levará tempo até que esta seja uma prática universal. Máquinas de ressonância magnética estão agora em alta demanda para outros tipos de diagnóstico de câncer e haverá treinamento especial para os radiologistas que interpretam os exames.
— O atual processo de diagnóstico para o câncer de próstata é notoriamente imperfeito, portanto qualquer desenvolvimento que ofereça melhorias deve ser adotado como uma questão prioritária — destacou Angela Culhane, executiva-chefe do Cancer UK. — Embora esteja claro que a implantação da ressonância magnética antes da biópsia não pode ser implantadas da noite para o dia, é fundamental que uma ação urgente seja tomada para torná-la disponível para os homens o mais cedo possível.
Este é o segundo avanço no tratamento do câncer de próstata em dois meses. Em dezembro, a UCL publicou um estudo mostrando que uma droga ativada por laser e derivada de bactérias no fundo do mar pode matar células de câncer de próstata sem os efeitos colaterais da cirurgia, que podem ser devastadores, deixando os homens com incontinência urinária ou impotentes.
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