Vista Chinesa amanhece com policiamento após denúncia dos Turistas


21 de Jan 2017 , 17h40 - Viatura da polícia militar na Vista Chinesa neste sábado - Guilherme Ramalho / Carmen Junqueira




RIO - Após os Turistas denunciarem a ausência de Policiais Militares no Parque Nacional da Tijuca, a Vista Chinesa, no Horto, amanhaceu com policiamento. Na última sexta-feira, feriado de São Sebastião, uma equipe de reportagem fez, sem pressa, um percurso de aproximadamente 13 quilômetros entre o Horto e São Conrado. Ao longo de duas horas, nenhum PM foi encontrado.

Na sexta, um oficial da Polícia Militar que pediu para não ser identificado, disse que o carro-patrulha que ficava estacionado em frente à Vista Chinesa precisou ser utilizado em uma outra área turística da cidade. Mas, após ouvir um relato sobre a falta de segurança em uma sexta-feira cheia de visitantes, afirmou que o veículo voltaria ao Parque Nacional da Tijuca, onde permaneceria das 7h às 10h — antes, ficava até as 19h.

— O Batalhão de Policiamento em Áreas Turísticas (um dos responsáveis pela segurança do parque) teve perda de efetivo. Eram 214 PMs há dois anos; agora, são 190 ou menos. Alguns se aposentaram, outros ficaram doentes, deram baixa, foram trabalhar na parte administrativa. A questão é falta de pessoal mesmo — argumentou o oficial.

Ainda de acordo com o policial, o Parque Nacional da Tijuca registra menos ocorrências com turistas do que outros pontos da cidade:

— Ali, há uma menor incidência de crimes envolvendo pessoas que visitam o Rio, apesar de ser um ponto muito procurado por estrangeiros. Assim que o efetivo do Batalhão de Policiamento em Áreas Turísticas for restabelecido, policiais voltarão ao parque em bom número. Sei que muita gente fala que, se tirar um PM de um lugar onde há paz, um crime vai acontecer, mas não adianta. O cobertor está curto mesmo. Temos que nos desdobrar, deslocando equipes o tempo todo pela cidade.

ASSALTOS EM TRILHAS

As justificativas do PM podem ser verdadeiras, mas o fato é que a situação se mostra crítica em vários trechos do parque no qual está localizado o Cristo Redentor, símbolo maior do Rio. No domingo passado, cerca de 20 pessoas foram assaltadas em uma das trilhas da floresta. Uma das vítimas foi esfaqueada e levada para o Hospital Municipal Miguel Couto, na Gávea.

O grupo de visitantes foi rendido por três homens armados, que conseguiram fugir. Com uma área de 3.972 hectares — o equivalente a quase dez “Copacabanas” — e cercado por favelas, o parque tem um histórico de crimes. Em agosto do ano passado, durante a Olimpíada, quatro homens armados ignoraram a presença de equipes da Força Nacional e assaltaram um grupo de 11 pessoas numa trilha do Pico da Tijuca. As vítimas, incluindo duas estrangeiras, ficaram cerca de 20 minutos sob a mira de revólveres e tiveram roupas, equipamentos eletrônicos e dinheiro roubados. Depois da ação, os bandidos fugiram pela mata.

CICLISTA COBRA AJUDA

Presidente da Comissão de Segurança ao Ciclista do Rio, Raphael Pazos disse que já alertou oficiais da PM para a falta de policiamento na região. Ele, no entanto, destacou que a floresta deveria receber ajuda do governo federal:

— Devemos cobrar isso, pois o parque, como o nome diz, é nacional. É a maior área federal dentro de uma metrópole brasileira. Não podemos deixá-lo desguarnecido porque é muito movimentado. Hoje, muita gente que participa de competições de ciclismo ou corridas de longa distância está treinando lá, subindo até a Vista Chinesa ou o Cristo Redentor. Virou febre.

A direção do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), responsável pela administração do parque, foi procurada por telefone para comentar o assunto, mas não retornou as ligações. Já a Polícia Militar informou, por meio de uma nota, que o patrulhamento não é estático; mas, sim, dinâmico, e feito com viaturas. A PM também lembrou que a Floresta da Tijuca é um parque federal, que conta com o patrulhamento dividido entre o 6º BPM (Tijuca), o 23º BPM (Leblon), o Comando de Polícia Ambiental (CPAm) e o Batalhão de Policiamento em Áreas Turísticas, sendo que este último foca sua atuação na Vista Chinesa e nas Paineiras.

A Polícia Militar conclui a nota informando que, “a partir de um ajuste” (não detalhado), o patrulhamento na Vista Chinesa passa a ser reforçado das 7h às 10h.

O Parque Nacional da Tijuca recebe, por ano, quase três milhões de visitantes, de acordo com o site do ICMBio. No ano passado, ganhou um complexo turístico na subida para o Corcovado. O Centro de Visitantes Paineiras tem museu, bilheteria, loja, lanchonete, bar e restaurante. Ontem, o guia turístico francês Pierre Félix reclamou da falta de policiamento.

— Não vimos PMs no caminho — disse Pierre, enquanto guiava um grupo de 15 europeus. — Precisamos da presença da polícia. Sempre tranquilizamos os visitantes, mas temos que ficar atentos a movimentos suspeitos. O Rio precisa vencer essa barreira da violência para incrementar o turismo.

Na Vista Chinesa, onde descansava após quase uma hora de pedalada, o empresário Alexandre Coutinho também se queixou da ausência de policiais:

— O trecho próximo ao Alto da Boa Vista é o mais perigoso. É uma área de fácil acesso, bandidos chegam pela mata, escondidos. Infelizmente, parece que as autoridades não estão dando a devida atenção ao Parque Nacional da Tijuca.

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