Imprudência de motoristas de jet ski no Canal de Marapendi gera revolta
03 de Mar 2017 | 22h00 - Jet skis passam perto dos banhistas - Stéfano Salles
RIO - Andar de stand up paddle (SUP) pelo Canal de Marapendi, aproveitando a vista enquanto se pratica atividade física, pode ser uma ótima opção de lazer. Mas nem sempre o passeio é uma tarefa simples. Com o aumento do número de pranchas e jet skis na água, principalmente devido à abertura de estabelecimentos que alugam esses equipamentos, muitas vezes a tranquilidade do passeio acaba dando lugar a conflitos dentro d’água. Os jet skis costumam ser os vilões das histórias. Não são raras as reclamações sobre motoristas imprudentes, que ultrapassam a velocidade máxima e desprezam a segurança, aproximando-se demasiadamente dos banhistas da Praia dos Amores e de praticantes de SUP.
Segundo frequentadores do local, um dos problemas é a fiscalização, só realizada nos fins de semana e, mesmo assim, não em todos. Mas o principal, apontam, é a falta de educação e cone alguns motoristas e jornalista Claudia Campos começou a andar de SUP em 2012 e acompanhou o aumento do movimento no canal. Hoje, ela diz que o espaço é “uma zona”:
— Nem sei como não há mais acidentes. Às vezes até tem, e a gente fica sabendo, mas não há dados oficiais. Tem piloto de jet ski que anda direito, passa com cuidado ao atravessar o canal, mas também há pessoas sem responsabilidade, que andam em alta velocidade. E, como é raro haver fiscalização, fica perigoso para todos.
Para alugar um jet ski, é necessário ter uma carteira de habilitação. O uso de colete salva-vidas também é obrigatório. Mas muitos frequentadores dizem que é comum ver motoristas não habilitados nas embarcações — menores de idade, por exemplo.
— Todo mundo sabe que a maioria das pessoas que usa os jet skis não tem carteira. E muitos não usam colete. A Marinha costuma fiscalizar nos fins de semana, mas nos outros dias o movimento também é grande — afima Janaina Uzai, praticante de SUP. — Outro dia minha filha de 14 anos estava passeando com a prancha, acompanhada de outras três crianças. Passou um jet ski pertinho e derrubou todo mundo. Falta segurança. Esse problema acontece há anos e só está piorando. Vários estabelecimentos (de aluguel ou para estacionamento de jet skis) estão abrindo, e infelizmente muitos motoristas não respeitam os outros.
Há denúncias também de motoristas embriagados. Para Rita Montonico, atleta de SUP, a falta de educação é a causa de todos os problemas:
— Fim de semana e feriado são mais complicados. Quase fui atropelada duas vezes. Numa, fui parar nas pedras, embaixo do viaduto. O fluxo é muito grande na boca do canal, porque as pessoas querem ir até as ilhas. A gente reclama, mas muitas vezes os motoristas não estão nem aí, parece que passam perto até para provocar. Já cheguei a ir a um clube reclamar porque me derrubaram, mas não adiantou.
Outro praticante da modalidade, o empresário Marcelo Henrique Fernandes endossa:
— Aos sábados e domingos, a situação fica impraticável entre 10h e meio-dia. Há muitos jet skis, e alguns pilotos passam entre os praticantes de SUP de propósito, para derrubá-los com as ondas. É um milagre que ainda não tenha acontecido um acidente grave.
Fiscalização. Agentes da Capitania dos Portos abordam jet-ski no canal - Stéfano Salles
Um frequentador da Praia dos Amores afirma que a Capitania dos Portos tem fiscalizado a área frequentemente nos meses de verão — quando a equipe esteve no local, num sábado no início da tarde, uma lancha da Marinha abordava os jet skis que trafegavam em alta velocidade. O problema se intensifica no fim da tarde, explica ele:
— Os pilotos dos jet skis ficam o dia inteiro bebendo nos clubes e, quando os fiscais vão embora, descem para o mar.
Rita resume a situação:
— Quando a Marinha sai, os problemas voltam.
Pleito por corredor náutico
Patricia Monteiro costuma andar de jet ski pelo Canal de Marapendi, e diz que é prudente. Ela nunca protagonizou um acidente, mas admite ter conhecimento de que há pessoas sem habilitação conduzindo as motos aquáticas.
— Desde que comecei a andar de jet ski, há dois anos, aumentou muito o movimento. O risco de acidente existe — diz.
A atleta de SUP Rita Montonico é contra a generalização:
— Não são todos que andam em alta velocidade; existem os que reduzem quando passam perto das pranchas. Mas muitos iniciantes no SUP tentam aprender o esporte no canal. Em dias cheios é complicado.
Sócio da Jet Barra, uma das empresas que alugam jet skis, Henrique Correia diz que é preciso criar um corredor náutico na altura da Praia dos Amores.
— Os banhistas costumam atravessar o canal até a outra margem, o que é um perigo. O corredor funcionaria como uma raia. Outro ponto de acidentes é perto do Quebra-Mar, por causa das ondas — observa Correia, para quem a imprudência de motoristas é um problema pontual. — Não é o padrão. Nós inclusive damos orientação, cobramos carteira náutica.
Perigo. Jet-ski muito próximo a pequenas embarcações e praticante de stand up paddle - Stéfano Salles
A 360° Sports, que também aluga o equipamento, não quis se manifestar. Já na Jet Paradise, uma das marinas mais famosas do local, tivemos duas diferentes respostas. No primeiro contato, sem se identificar, o repórter foi informado de que podia alugar jet ski no local, desde que apresentasse habilitação. Num segundo telefonema, quando disse que era jornalista, porém, recebeu da funcionária Areta Virginia outra informação.
— Só alugamos as vagas de estacionamento. Às vezes, os donos do jet ski é que botam suas embarcações para alugar, e então fazemos a ponte — disse a funcionária, que afirma jamais ter recebido reclamações sobre imprudência. — Não tenho conhecimento de conflitos ou acidentes.
O mau uso de jet skis também ameaça a fauna, frisa o biólogo Marcello Mello. Ele diz que já resgatou capivaras e tartarugas atropeladas por eles.
— Poucos respeitam a velocidade máxima — afirma Mello, que, em parceria com uma cooperativa de sinalização náutica, busca conceber um projeto para o canal. — Hoje é uma bagunça. Uma possibilidade é determinar espaços de navegação com boias amarelas flutuantes. Também queremos oferecer cursos para barqueiros.
Segundo a Marinha, a Capitania dos Portos do Rio fiscaliza o Canal de Marapendi regularmente. Este ano, informou em nota, houve fiscalização todos os fins de semana e “eventualmente durante os dias de semana”. Em 2017, foram abordados 935 jet skis, sendo 57 notificados e dez apreendidos por infrações como trafegar em área não permitida e ausência de carteira de habilitação. Em caso de suspeita de embriaguez, o condutor é submetido a teste de alcoolemia e pode ser autuado. Os números 98218-6968 (WhatsApp) e 2104-5480 recebem denúncias.
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