Barcas perdem quase um milhão de passageiros em um ano



NI RIo de Janeiro (23/05/2017) Barcas perdem 1 milhv£o de passageiros em um ano: o balanvßo da CCR Barcos mostra que a concessionv°ria perdeu 1 milhv£o de passageiros em comparavßv£o com o mesmo perv?odo do ano passado. Foto: Analice Paron



NITERÓI - Francisca Paura é sócia, com o pai, Giuseppe, da GP Tabacaria, inaugurada há 13 anos na Estação de Charitas. Desde então, os dois, além de tabaco, vendem jornais e revistas para os usuários das barcas. Nos últimos anos, porém, não há tantos passageiros quanto antigamente. O que pai e filha observam informalmente foi constatado este mês no balanço do primeiro trimestre do ano da CCR, concessionária do serviço: em um ano, o sistema perdeu quase um milhão de usuários nas cinco linhas que explora no estado.



De janeiro a março de 2016 foram transportados 6,080 milhões de passageiros, e, no mesmo período de 2017, o número caiu para 5,082 milhões, uma redução de 16,4%. Em termos absolutos, a linha que mais perdeu passageiros foi a Praça Quinze-Araribóia.


 De janeiro a março do ano passado, as barcas transportaram nesse trajeto 4,8 milhões de pessoas. Este ano, 4,1 milhões, uma redução de 15,2% até março. No primeiro trimestre de 2014, no auge do serviço, foram transportadas 5,7 milhões de pessoas, mais que o acumulado das cinco linhas hoje.



Na linha Praça Quinze-Charitas, a queda foi de 32,4%, passando de 479 mil para 324 mil passageiros. No primeiro trimestre de 2015, 620 mil passageiros fizeram a travessia. A linha que registrou maior queda foi a Praça Quinze-Cocotá (Ilha do Governador), com uma redução de quase 50% dos passageiros, de 262 mil para 132 mil (49,7%).  Fluxo na ponte cresce 6,4% no período Para a CCR, a queda é puxada por dois fatores: o aumento do desemprego e as mudanças nos horários das linhas, autorizadas pela Secretaria Estadual de Transportes (Setrans), efeituada a partir de estudo da própria concessionária.



Na época da mudança, tanto a empresa quanto a Setrans sustentaram que o total afetado seria de apenas 1% de passageiros. Em nota, a CCR diz que “é fundamental destacar que o maior motivo das quedas apontadas no balanço ocorreu em função do desemprego.”  A Setrans, também em nota, afirma que “a queda de demanda superior a esse percentual (de 1%) encontra justificativa em outros aspectos macroeconômicos, como a redução do poder aquisitivo da população em virtude da crise econômica e o alto índice de desemprego”.




A Setrans aponta ainda a falta de integração entre modais no desembarque na Praça Quinze. Se o fluxo de passageiros diminuiu nas barcas, o movimento aumentou no mesmo período na Ponte Rio-Niterói. Apesar do enfraquecimento da economia e da queda no volume de veículos comerciais entrando no Rio de Janeiro, relatório da Ecoponte, que administra a via, indica que, de janeiro a março, 7,3 milhões de veículos passaram pela via, contra 6,9 milhões em igual período do ano passado, uma alta de 6,4%.  A queda no número de passageiros nas barcas vem na esteira de uma mudança que afetou usuários das três linhas.



As mudanças mais fortes ocorreram, porém, em Charitas. Ali, foram eliminadas as barcas que saíam entre meio-dia e 16h e houve aumento no intervalo de saída de barcas, de 15 para 20 minutos. No mesmo período, o valor das passagens subiu de R$ 15,90 para R$ 16,50. Para os comerciantes que alugam espaços na Estação de Charitas, o impacto foi instantâneo.




Francisca, que acompanha o dia a dia do local desde sua fundação, diz que esse é o pior momento do negócio familiar: — Do meio-dia até as 16h, simplesmente não aparece ninguém. O movimento já havia caído devido às obras (do BHS e do Túnel Charitas-Cafubá), mas a mudança nos horários foi ainda o pior.




 Nem o Restaurante Olimpo, um dos mais conceituados em Niterói, escapou dos problemas. O estabelecimento, que fica no topo da estação, foi obrigado a demitir funcionários. — Em 2015 o restaurante tinha 31 funcionários. Agora tem 22. Com a mudança de horário, tive que demitir três — afirma Daniel Hollanda, sócio do empreendimento.




 — A queda no movimento compromete 30% da receita. Apesar de morar a cinco minutos do trabalho, todos os dias ele dirige até a Estação de Araribóia para deixar a mulher, que trabalha no Rio: — Não há motivo para gastarmos R$ 16,50 todos os dias. É melhor levá-la até o Centro de carro e depois vir para cá trabalhar.



 Dono da loja de conveniência Naturais Verdes, Clóvis Henrique Vieira contabiliza queda de 40% no faturamento. O número de funcionários caiu de dez para seis. Assim como Hollanda, ele torce pela mudança na tarifa. — Se baixar o valor, vai explodir de gente por aqui — afirma Vieira. — Vamos tentar aguentar até as mudanças virem. Minha sorte é que os fornecedores são meus amigos.



 Atualmente há um projeto de lei dos deputados estaduais Comte Bittencourt (PPS), Flávio Serafini (PSOL), Gilberto Palmares (PT) e Waldeck Carneiro (PT) para reduzir a tarifa em Charitas.



 Mas, mesmo que seja aprovado e vire lei, ele só altera o valor depois que a nova concessionária assumir a operação do sistema. A Setrans espera publicar o edital de licitação para a exploração do transporte nos próximos três meses.

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