Lava-Jato: PF deflagra operação que mira propina em obras da ferrovia Norte-Sul



Trilhos da Ferrovia Norte-Sul em Anápolis - Reprodução/TV Anhanguera)



 RIO - A Polícia Federal (PF) deflagrou a operação "De volta aos trilhos" na manhã de quinta-feira, que investiga crimes de lavagem de dinheiro decorrente do recebimento de propina em obras da ferrovia Norte-Sul. Trata-se de um desdobramento da Lava-Jato e de uma nova etapa das operações "O Recebedor" e "Tabela Periódica"



. São cumpridos dois mandados de prisão preventiva, sete de busca e apreensão e quatro de condução coercitiva em Goiás (GO) e no Mato Grosso (MT).


 Estima-se que tenham sido lavados pelo menos R$ 4,4 milhões, em valores de 2012.



Os principais alvos são o ex-presidente da Valec (,estatal ferroviária vinculada ao Ministério dos Transportes), José Francisco das Neves — chamado de Juquinha —; seu filho Jader Ferreira das Neves; e o advogado Leandro de Melo Ribeiro. Jader (o filho) e Leandro (advogado) tiveram prisões preventivas decretadas.



Já as conduções coercitivas são para Juquinha, o advogado Mauro Césio Ribeiro (sócio e pai de Leandro), Jeovano Barbosa Caetano e Fábio Junio dos Santos Pereira, suspeitos de prestarem auxílio para a execução da lavagem. 



Juquinha e Jader — pai e filho — são suspeitos de continuarem a lavar dinheiro de propina. Já o advogado é suspeito de ser laranja dos dois primeiros e auxiliá-los para ocultar o patrimônio.


 As buscas e apreensões miram a casa dos investigados e a sede das empresas Pólis Construções e Noroeste Imóveis. Os endereços funcionariam no escritório de advocacia de Mauro Césio e Leandro Ribeiro. A operação se baseia em acordos de delação premiada de executivos das empreiteiras Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez assinados junto ao Ministério Público Federal em Goiás (MPF-GO).



 Eles afirmaram ter pago propina ao então presidente da Valec, José Francisco das Neves, que é chamado de Juquinha.


Investigações da PF em Goiás também levaram à identificação e à localização de parte do patrimônio ilícito que era mantido oculto sob nome de terceiros. 


CONDENAÇÃO ANTERIOR


 José Francisco das Neves, o Juquinha, e seu filho Jader Ferreira das Neves já foram condenados anteriormente, na operação Trem Pagador.


 A pena foi de 10 e sete anos de prisão, respectivamente, sob acusação de formação de quadrilha e lavagem de aproximadamente R$ 20 milhões pelos crimes de cartel, fraudes de licitações, peculato e corrupção também em obras da ferrovia Norte-Sul, quando Juquinha presidiu a Valec.


Eles recorreram da decisão da Justiça e aguardavam em liberdade. Os investigadores afirmam que, mesmo depois das condenações, os investigados continuam a lavar dinheiro, produzir provas falsas no processo que são acusados e ainda pagam despesas da defesa (advogados) com dinheiro oriundo de propina.



 O juízo, porém, considerou que não havia provas suficientes de que Juquinha seguisse com atuando criminosamente e, por isso, indeferiram o pedido de prisão preventiva contra ele.



 A operação "De volta aos trilhos" foi batizada desta forma, pois significa "trazer as coisas de volta ao seu lugar". É uma alusão à tentava de recuperar parte dos recursos desviados da ferrovia Norte-Sul.


 FERROVIA NORTE-SUL


 Em abril de 2015, revelamos que o ex-presidente da Camargo Corrêa, Dalton Avancini, confessou à Justiça que a empresa pagou propina para executar obras na Ferrovia Norte-Sul. Segundo o empresário, o esquema era similar ao realizado com contratos da Petrobras investigados pela Lava-Jato e abasteceu partidos políticos e agentes públicos.


 O Ministério Público de Goiás suspeitava que empreiteiras realizavam pagamentos regulares, por meio de contratos simulados, a um escritório de advocacia e a mais duas empresas do estado indicados por Juquinha, que eram usados para lavar dinheiro proveniente de fraudes em licitações públicas.


 Depois, em junho de 2016, foi deflagrada a operação "Tabela Periódica", batizada em referência ao nome que alguns dos próprios investigados deram a uma planilha de controle em que desenhavam o mapa do cartel.


A investigação apontava prejuízos aos cofres públicos de R$ 631,5 milhões, considerando somente trechos executados na Norte-Sul, em Goiás.


 A operação era uma nova etapa de outra, chamada "O Recebedor", deflagrada em 26 de fevereiro.


Em acordo de leniência e delação premiada, a Camargo Corrêa se comprometeu a devolver aos cofres públicos R$ 800 milhões, dos quais R$ 65 milhões destinados a ressarcir danos acusados à Valec.

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