Solução para breu nas ruas da cidade só vem em 2018

Na galeria do Túnel Rebouças que dá acesso à Lagoa, postes com lâmpadas apagadas são vistos em várias regiões - Carmen Junqueira


RIO - Com medo de assaltos, a aposentada Elizabeth Rocha, moradora de Copacabana, parou de sair à noite.

 Evita especialmente as calçadas mal iluminadas na altura do Posto 6, justamente a região em que tanto gostava de “bater perna”. Pelo mesmo motivo, as caminhadas pelas ruas Dona Mariana, Dezenove de Fevereiro e Sorocaba, em Botafogo, bairro do qual se mudou há quatro anos, também ficaram para trás.


Triste, ela lamenta passar horas em frente a um aparelho de TV, sem sentir a brisa do mar, e sentencia: o Rio virou “uma cidade às escuras”. Para resolver o problema, a prefeitura aposta na privatização da iluminação pública.




 O município deu um passo nesse sentido ao assinar um contrato com a IFC (sigla em inglês para International Finance Corporation, ou Corporação Financeira Internacional, em tradução livre), braço de projetos do Banco Mundial, que planejará a parceria público-privada (PPP) a ser implementada.



 O futuro concessionário terá como obrigações trocar todas as 450 mil lâmpadas da cidade por modelos de LED e fazer a manutenção do sistema. Além disso, o prefeito Marcelo Crivella quer que câmeras ou antenas de wi-fi sejam instaladas nos postes.



 A expectativa da Subsecretaria de Projetos Estratégicos é que o estudo fique pronto em sete meses, para, em seguida, realizar uma consulta pública



. A prefeitura pretende lançar o edital de licitação e escolher o futuro concessionário em meados do ano que vem. A troca da iluminação começaria pelas áreas turísticas.



O contrato com a IFC custa US$ 2,29 milhões (aproximadamente R$ 8,2 milhões). Setenta por cento serão custeados pelo vencedor da concorrência e 30%, pelo município. 



  O LED tem mais luminosidade, e o Rio é muito violento. Precisamos clarear todos os cantos da nossa cidade.

Além disso, a luminária de LED consome bem menos energia .Hoje, nossa conta de luz por mês gira em torno de R$ 20 milhões. Podemos pagar a metade.


 Só que a prefeitura não tem recursos para trocar 450 mil lâmpadas. Isso pode ser feito por uma empresa — disse Crivella. De acordo com a Rioluz, as áreas públicas do Rio tinham, no mês passado, 5.445 lâmpadas queimadas, o equivalente a 1,21% dos pontos de luz da cidade, um índice considerado pequeno pela companhia.



Mas a esses pontos totalmente às escuras se somam outros nos quais a iluminação é fraca: apenas 4.860 das 450.000 lâmpadas instaladas em logradouros são de LED, e a melhor luminosidade acaba restrita alguns túneis e poucos corredores.



Sem falar que, no orçamento de 2017 da Rioluz, não estão previstos gastos com investimentos. Os recursos liberados para manutenção este ano somam R$ 40 milhões, bem abaixo dos R$ 74,3 milhões estimados pela lei orçamentária.



 — Eu posso não sair mais à noite. Mas e um médico, um enfermeiro ou um trabalhador que vai para a faculdade depois do expediente? — questiona a aposentada Elizabeth Rocha



. — A luz dos postes é fraca, as árvores não são podadas regularmente, falta policiamento adequado e os restaurantes e bares estão mais vazios, por causa da crise financeira do estado.



 Essa soma de fatores torna as ruas do Rio muito inseguras.  A Subsecretaria de Projetos Estratégicos é lacônica nas informações sobre a PPP a ser adotada para a iluminação pública, alegando que caberá à instituição contratada fazer os estudos financeiros, jurídicos, ambientais e tecnológicos do projeto.



O órgão adianta, no entanto, que o município deverá implantar uma concessão semelhante à de Belo Horizonte, que pretende reduzir em, no mínimo, 45% o consumo de energia dentro de cinco anos.



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Segundo a prefeitura da capital mineira, o consórcio IP Belo Horizonte (formado pelas construtoras Barbosa Mello, Remo, Planova Planejamento Construções e Selt Engenharia) assumirá a iluminação pública em junho.



 O contrato terá duração de 20 anos. O grupo de empresas receberá R$ 49 milhões anuais e deverá modernizar e manter 180 mil pontos de luz. Os recursos sairão da Contribuição para o Custeio da Iluminação Pública (CCIP), já arrecadada pela prefeitura



. Desde 2010, uma taxa semelhante é cobrada no Rio. Trata-se da chamada Contribuição para Custeio do Serviço de Iluminação Pública (Cosip), que varia conforme o consumo de energia de cada imóvel e está presente nas faturas mensais da Light.



Os valores pagos são repassados ao município. No ano passado, segundo a Rioluz, a Cosip gerou uma arrecadação de R$ 200 milhões. De acordo com a Rioluz, em média, 186 lâmpadas queimam por dia na cidade.



 A companhia garante, porém, que atende a 98% das solicitações para serviços de manutenção e reparos em um prazo de 72 horas. Na madrugada de quarta e quinta-feira, percorremos parte do Centro e das zonas Norte e Sul da cidade e constatou que uma grande quantidade de locais se encontra às escuras



. No primeiro dia, havia três postes com lâmpadas apagadas no trecho da Avenida Rio Branco próximo à Rua Visconde de Inhaúma, no Centro. Perto dali, a iluminação também era precária na esquina da Rua Santa Luzia com a Avenida Presidente Antônio Carlos e no trecho da Avenida Almirante Barroso entre a Avenida Graça Aranha e a Rua do México.



A situação era ainda mais crítica na esquina das ruas de Santana e Rua Frei Caneca. Também na quarta-feira, motoristas percorriam longos trechos das pistas do Aterro do Flamengo às escuras. Faltava luz na altura do Museu de Arte Moderna e do Instituto Fernandes Figueiras.



 Na Rua Lauro Müller, em Botafogo, pedestres e automóveis passavam por vários postes com lâmpadas apagadas ou com luz fraca. No mesmo bairro, a situação se repetia na subida para o Mirante do Pasmado. Ainda na região, havia trechos mal iluminados na Avenida Pasteur, na Urca — neste caso, o problema era potencializado pela grande quantidade de árvores sem poda.



 Na Zona Norte, a situação era semelhante. O trecho da Avenida Radial Oeste em frente à Uerj, no Maracanã, estava totalmente sem luz. A única iluminação na área era a de um posto de gasolina, que estava deserto. Lâmpadas também estavam apagadas no trecho da Avenida Brasil que corta o bairro de Coelho Neto



. E o entorno do Alto da Boa Vista, em São Cristóvão, encontrava-se quase que completamente às escuras. Na madrugada de quinta-feira, parte do terminal de ônibus próximo à PUC, na Gávea, estava mal iluminada. Quem acessava o Túnel Rebouças pela Zona Sul também se deparava com uma galeria no breu.



A iluminação foi restabelecida no momento em que a equipe de reportagem deixava o local. O panorama não era diferente na Zona Portuária.



 Na Rua Professor Pereira Reis, próximo a um imóvel da Secretaria estadual de Educação, no Santo Cristo, havia três postes apagados. Perto dali, a iluminação também era precária na Rua Barão de São Félix, na Gamboa.

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