Taxistas que aderirem a aplicativo da prefeitura deverão reportar problemas da cidade
POR PEDRO ZUAZO E SELMA SCHMIDT 30/05/17 | Atualizado: 21h10
 Iniciativa da prefeitura é uma tentativa de enfraquecer a concorrência de aplicativos da iniciativa privada - Guito Moreto
RIO — Numa ofensiva contra os aplicativos de transporte particulares, a prefeitura lançou nesta segunda-feira o projeto Taxi.Rio, uma plataforma de mobilidade pública. Até o fim de julho, num período de testes, 300 funcionários municipais que usavam carros alugados para deslocamentos em serviço vão avaliar o modelo. Até agora, há 20 motoristas cadastrados, mas, nos próximos dias, o número chegará a 150.
O sistema estará disponível para o público e os taxistas em geral a partir de agosto. Segundo o prefeito Marcelo Crivella, por meio do aplicativo, poderão ser oferecidos descontos aos passageiros.
No entanto, não está descartada uma tarifa dinâmica, como ocorre com o Uber, que varia de acordo com a oferta e a procura. O motorista que aderir ao novo sistema — não será obrigatório — substituirá o taxímetro físico pelo virtual, que funcionará em seu smartphone.
O Taxi.Rio foi apresentado numa cerimônia que reuniu cerca de 40 taxistas e quase todo o primeiro escalão do município no Palácio da Cidade. No evento, Crivella ainda assinou um decreto que reconhece o serviço de táxi comum como Patrimônio Cultural da Cidade. O prefeito, que fez questão de lembrar que já foi taxista, anunciou promessas como autorizar que os amarelinhos usem a Ponte Estaiada, exclusiva do BRT, quando foram ao Aeroporto Galeão-Tom Jobim, e ampliar a idade limite da frota, hoje fixada em até seis anos.
Na avaliação de Crivella, o programa pode contribuir para o fim das diárias, um sistema usado por proprietários de autonomias. Especialista em trânsito, a engenheira Eva Vider não se empolga com a proposta municipal: 
— Acho que a prefeitura está atrasada em relação à organização dos táxis no Rio. Já temos plataformas que operam com descontos. Não vejo grande novidade nesse novo aplicativo, mas acho legal, desde que ofereça as mesmas regalias (como descontos aos passageiros) que as dos sistemas já existentes.
AGENTES DE CIDADANIA DA PREFEITURA
O Taxi.Rio foi concebido pela Empresa Municipal de Informática (IplanRio). Segundo o presidente do órgão, Fábio Pimentel, o modelo foi desenvolvido por seus técnicos, sem custo extra para a instituição, e é pioneiro no Brasil:
— Trata-se de um novo modelo de negócios entre prefeitura, taxistas e cidadãos. Analisamos mais de 20 aplicativos privados no mundo. Quanto à plataforma pública para táxis, desconheço a existência de alguma outra no país. 
Na fase de testes, a central funcionará na sede da IplanRio. Nesta segunda-feira, 20 taxistas começaram a usar o aplicativo e, na quinta-feira, serão abertas inscrições pela internet, no domínio taxi.com, até a adesão de 150 motoristas.
Após ajustes, a central passará a operar na sede da Secretaria municipal de Transportes, que vai estabelecer se usará os próprios servidores ou se será necessário algum investimento extra. Inicialmente, os taxistas que aderirem ao modelo não vão pagar pelo aplicativo.
Em contrapartida, deverão ser o que Crivella chamou de agentes de cidadania da prefeitura: — Em cada lugar, se tiver um sinal de trânsito queimado, vão avisar. Não precisam escrever, estão georreferenciados. Colocam o dedo na bolinha de sinal queimado. O mesmo vale para vazamento de rua, poda de árvore e até violência. Por meio do COR, imediatamente passamos informações para os órgãos da prefeitura.
A minha ideia é que tenhamos 33 mil novos agentes nos informando como melhor cuidar da cidade. No futuro, o passageiro que pedir um veículo pelo Taxi.Rio saberá com antecedência quem vai buscá-lo, modelo e placa do carro e quanto vai pagar. E a plataforma não acabará com o famoso aceno de mão para pegar um táxi
. Só que, ao fim da corrida, os dados da viagem serão exibidos na tela do smartphone do condutor. Como nos aplicativos particulares, os motoristas serão avaliados pelos passageiros e, segundo Pimentel, haverá premiação. Eles poderão, por exemplo, ser escolhidos para fazer transporte em grandes eventos.
Neste modelo, quando houver necessidade de táxis em uma determinada área, a prefeitura poderá direcionar veículos para o local. Quanto aos aplicativos particulares existentes, Crivella diz que não haverá prejuízos: — É uma disputa normal pelo mercado. Agora, vamos ter uma disputa mais equilibrada.
Todos usando armas tecnológicas para prestar o melhor serviço. A iniciativa da prefeitura divide opiniões entre taxistas, desgastados pela concorrência com motoristas do Uber. Alguns temem que a plataforma municipal se torne mais uma fonte de arrecadação.
— Podem até cobrar uma taxa simbólica, mas quem garante que, depois, não vão aumentar a porcentagem? Com os aplicativos de hoje, perdemos quase 50% do valor da corrida — diz Jorge Lopes, há 32 anos na praça. Taxista há 23 anos, José Gomes Cruz Filho espera dias melhores: — Qualquer iniciativa é bem-vinda. Nunca vi uma situação tão crítica como a de hoje.
Antes, eu pagava as parcelas da minha casa, do meu carro e todas as outras despesas. Depois dos aplicativos, a conta não fecha mais. O valor cobrado é injusto e a quantidade de motoristas particulares nas ruas é absurda.
Questionada sobre a chegada do Taxi.Rio, a empresa 99, que oferece serviços de táxi e de motoristas particulares, afirma que “há espaço para todos” e que aguarda a definição de como será sua operação, para “poder fazer um comentário mais consistente”.
Em nota, a Cabify deu “boas-vindas ao novo aplicativo”. A empresa diz que enxerga de maneira muito positiva o lançamento no mercado.
Por meio de sua assessoria, o Uber disse que não irá se pronunciar, pois não considera o serviço de táxis um concorrente de seu aplicativo. (Colaborou Dayana Resende)
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