Devido a roubos e depredações, serviço de aluguel de bicicleta vai passar por mudanças


 Os paulistas Daiane Martis e Vinícius Alejandro tentam alugar bicicletas em Copacabana: cada um pagou R$ 10 para pedalar, mas não conseguiu porque a estação era uma das 37 que estavam fora de operação - Antonio Scorza





RIO - Foi amor à primeira vista. Cariocas e turistas se encantaram quando, em outubro de 2011, um sistema de aluguel de bicicletas, o Bike Rio, tingiu de laranja — cor do banco patrocinador do projeto — as ruas e ciclovias da cidade. Passados quase seis anos, a lua de mel — foram 20 milhões de viagens no período —, parece ter acabado. Usuários reclamam de uma série de problemas, que vão desde equipamentos quebrados à dificuldade de se encontrar um ponto de aluguel que esteja funcionando.  


Na tarde desta terça-feira, o aplicativo Bike Rio mostrava que 37 das 260 estações espalhadas pelas zonas Sul, Norte e Oeste estavam inoperantes (14,2% do total). Uma nova empresa assumiu a operação no mês passado com a promessa de melhorar o serviço, mas, até agora, não há prazo para a implantação das mudanças previstas, que incluem a compra de três mil bicicletas, de modelos mais modernos, e sistema antifurto.



 Enquanto as novidades não chegam, turistas e cariocas experimentam a frustração de muitas vezes continuarem a pé quando desejam pedalar. Daiane Martis e Vinícius Alejandro, que vieram de Ribeirão Preto passar uns dias de folga na cidade, ficaram encantados com a ideia do Bike Rio — não existe nada parecido onde moram — e logo baixaram o aplicativo que permite alugar as “laranjinhas”. 


‘Quando chegamos a uma estação, normalmente encontramos muitas bicicletas quebradas, sem banco ou com o pneu furado’ - Beatriz Medeiros Publicitária


 Cada um comprou, por R$ 10, um passe mensal e, juntos, foram à estação da Praça Serzedelo Correa, em Copacabana, onde estão hospedados. Tentaram retirar, em vão, bicicletas para passear pela orla. Apesar de terem encontrado no local 12 equipamentos, descobriram que todos estavam indisponíveis porque a estação estava fora de operação.



 — É o segundo dia que a gente vem aqui e não consegue alugar. A ideia do Bike Rio é boa, mas o funcionamento é péssimo. A gestão é muito ruim — lamentou Vinícius. — Ontem, em outra estação, vimos um senhor que até conseguiu retirar uma bicicleta, mas não pôde pedalar porque ela estava com a corrente quebrada.



 Não muito longe de onde os turistas estavam, a atriz Charlotte Lima, moradora de Copacabana e usuária frequente do sistema, também enfrentava problemas na estação diante do hotel Copacabana Palace. A única bicicleta no local estava fora de serviço. Inconveniente que, segundo ela, não é exatamente uma novidade.   Como é o novo modelo — É sempre um sofrimento.



Ontem mesmo, quando fui devolver a bicicleta, o sistema não reconheceu a devolução. Tive que ligar para o atendimento ao cliente para resolver. Por sorte, eu percebi. Se não, teriam debitado o atraso no meu cartão.


 A estação Ferreira Viana, na Praia do Flamengo, também estava sem funcionar. Segundo o administrador Luís Eduardo de Castro, não é possível alugar bicicletas no local há duas semanas. Mas não é só responsabilidade da empresa as dificuldades que os usuários estão enfrentando.


 A má educação também tem uma boa parcela de culpa já que, com frequência, o funcionamento do programa é interrompido devido a atos de vandalismo. Desde que a Tembici assumiu a operação do sistema, em maio, foram 260 bicicletas vandalizadas, cerca de 10% do total.



As estações onde há mais estragos são AquaRio, Pontal, Centro de Convenções, Lúcio Costa, Posto 9 da Barra, Rodoviária Novo Rio, Praça Coronel Castelo Branco, Metrô Praça Quinze, Praia do Pepê e São Conrado.


 A publicitária Beatriz Medeiros, moradora do Leblon, aluga bicicletas semanalmente e lamenta sempre se deparar com equipamentos avariados nas estações. — Queria usar diariamente, mas nem sempre há bicicleta disponível e acabo optando por outro meio de transporte.


 Além disso, quando chegamos a uma estação, normalmente encontramos muitas delas quebradas, sem banco ou com o pneu furado — lamenta. Segundo a empresa, das “laranjinhas” que sofreram danos, 150 já foram recuperadas e voltaram a circular. A Tambici informou ainda que foram disponibilizadas 100 novas bikes.


Outras 300, de acordo com a operadora, serão entregues nas próximas duas semanas. No mês passado, 41 foram roubadas. A intenção da empresa é mudar o sistema de aluguel e oferecer modelos mais modernos. Três mil bicicletas já foram compradas e devem chegar ao Rio em setembro, mas a Tambici ainda não pode colocá-las nas ruas porque há um impasse contratual.



 A companhia comprou a Samba Transportes Sustentáveis, que operava o serviço e tinha um contrato com a prefeitura válido até o segundo semestre do ano que vem. Para que a Tembici troque as bicicletas, seria necessário esperar o fim do prazo ou realizar uma alteração no contrato firmado com a Samba e herdado por ela.



A Subsecretaria de Projetos Estratégicos afirma, no entanto, que “não negocia aditivo ao contrato da prestação do serviço de compartilhamento de bicicletas no momento”. Quando o imbróglio for solucionado — a empresa afirma estar negociando o prazo com o município — , a Tembici promete pôr em operação bicicletas mais robustas, com pneus em aro 24, substituindo os atuais, de 26.


A mudança pode diminuir o número de roubos, já que as peças com aro menor têm menos valor de mercado. Mas não é só. As bicicletas vão contar com uma trava antirroubo desenvolvida especialmente para o Brasil pela empresa PBSC Urban Solutions, do Canadá. — Para o ladrão conseguir levar, só quebrando — diz Luciana Nicola, superintendente de Relações Governamentais e Institucionais do Itaú Unibanco, que patrocina o serviço.



 As novas bicicletas vão ter também bancos mais confortáveis e reguláveis, além de cesto adaptável para o tamanho da bagagem, com luz de LED, que também será colocada no banco, para aumentar a segurança do ciclista. A cor laranja e o peso, de 16kg, continuarão os mesmos, assim como a configuração de marchas de três velocidades.


 MODELOS ATUAIS DEVEM SER DOADOS


 As mudanças devem ocorrer também nas estações. Elas foram repensadas de maneira a otimizar a quantidade de bicicletas estacionadas. O modelo fixo será substituído pelo modular, que poderá receber mais bicicletas, conforme a necessidade. Cada estação poderá ficar com 20 vagas, em vez das dez ou doze atuais. A ideia já é realidade em cidades como Nova York.


O painel de pagamento também ficará mais moderno, com comunicação sem fio e interface digital mais fácil de ser usada. As bicicletas atuais não vão ser aposentadas. Uma das ideias, diz Luciana, é capacitar moradores de rua para que eles usem as bikes para fazer entregas. Segundo ela, o assunto já está sendo tratado com as prefeituras dos cinco municípios onde o projeto funciona: — Vamos doar essas bicicletas antigas e dar a elas um papel social, para que gerem renda. Estamos iniciando essa conversa com as prefeituras, mas em São Paulo, as negociações já estão avançadas — disse.



 No Rio, as bicicletas representam 5% do total dos meios de transporte utilizados para o deslocamento na cidade, seja para lazer ou para trabalho. Isso significa mais de dois milhões de viagens por dia, numa malha cicloviária que hoje alcança 450 quilômetros.

COMO FUNCIONA O ATUAL MODELO:




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