Arquitetos imaginam a Barra daqui a 35 anos
Arquiteto Paulo Niemeyer imagina VLT passando pela orla da Barra, passando pela Reserva e chegando ao Pontal - Divulgação/Paulo Niemeyer
RIO — Em abril de 1969, o arquiteto e urbanista Lucio Costa entregou a Negrão de Lima, então governador do Estado da Guanabara, o plano piloto que visava à urbanização da área compreendida entre Barra da Tijuca, Portal de Sernambetiba e Jacarepaguá. O objetivo de Costa, que também projetou Brasília, junto com Oscar Niemeyer, era não só apresentar propostas de aproveitamento da área como também unificar a cidade, dividida entre as zonas Sul e Norte.
O plano nunca chegou a ser completamente executado. Quase 40 anos depois, vias projetadas para desafogar a Avenida das Américas não saíram do papel, e a mobilidade urbana é uma das principais queixas de quem mora ali. Em homenagem aos 35 anos dos Jornais de Bairro, convidamos dois arquitetos para imaginar a região daqui a 35 anos. 
O tema era livre, mas tanto Paulo Sergio Niemeyer, neto de Oscar Niemeyer — que planejava construir 70 grandes torres redondas residenciais e comerciais no bairro — como Victor Niskier, que vai expor na mostra Morar Mais por Menos, no CasaShopping, pensaram, principalmente, em soluções de transporte.
Para eles, a situação é urgente e já deveria ter sido resolvida, há 35 anos. Da varanda de seu apartamento, Paulo Sergio observa a praia, a Pedra da Gávea e parte da Avenida das Américas, com seu trânsito diário.
Com a mesma intensidade que se declara apaixonado pela Barra e afirma que “não há vista mais bonita do que a da minha varanda”, critica a má exploração do transporte de massa na região. Ele acredita que é essencial o desenvolvimento de rotas aquaviárias, que poderiam conectar a Barrinha ao Pontal.
 — A mobilidade urbana tem que ser desenvolvida. O metrô foi feito com celeridade para atender à necessidade de um evento esportivo, mas deveria, no mínimo, ter chegado ao Terminal Alvorada.
Para a Barra daqui a 35 anos, é necessário se fazer um plano junto com a sociedade. A meu ver, faltam áreas públicas de lazer, mobilidade urbana, integração modal e clusters turísticos nas lagoas, aliados ao transporte aquaviário e sempre dentro do conceito público, e não do privado, como acontece na cidade.
Isso tem que ser feito prioritariamente, urgentemente — afirma.
Do Jardim Oceânico ao Pontal, um passeio de VLT pela orla da região; transporte estaria interligado às áreas de lazer e cultura - Divulgação/Paulo Sergio Niemeyer
Seguindo este pensamento, o arquiteto desenhou para projetos que revelam uma vontade antiga, sua e de seu avô, de conectar o bairro e oferecer opções de cultura e lazer não só para os moradores, mas para toda a cidade.
Paulo Sergio e Oscar já haviam projetado juntos a sede do Instituto Niemeyer e um museu de arquitetura para a região. Paulo Sergio vislumbra a Barra do futuro como um novo centro metropolitano, sendo o Terminal Alvorada um local de integração intermodal, com metrô, ônibus, VLT e BRT, o que diminuiria o fluxo de carros. Em seu projeto, a Avenida das Américas se transforma em um grande parque horizontal, que favorece pedestres e ciclistas.
— Estamos contestando o atual projeto do metrô. A extensão até o Alvorada é fundamental, porque ele está no centro da Barra. Além da integração intermodal, cabe também fazer um shopping ali, para aproveitá-lo economicamente. O fluxo de carros diminui, e o parque surge para humanizar a região, integrando áreas públicas e privadas — resume.
 CULTURA E LAZER
Paulo Sergio Niemeyer propõe também que a orla do Jardim Oceânico, passando pela Reserva e chegando ao Pontal, seja toda conectada por VLT. Ele argumenta que este tipo de transporte é uma alternativa que não agride a paisagem e beneficia grande número de pessoas.
Niemeyer também bate na tecla da necessidade de integrar as classes sociais. Investimentos em transporte público, bicicletários e áreas de lazer seriam formas de fazê-lo.
Sede do instituto Niemeyer e museu do urbanismo projetados por Paulo e seu avô - Divulgação/Niemeyer
Tanto na orla quanto ao redor das lagoas, uma arquitetura voltada para a prática de atividades físicas e culturais estimularia a população a frequentar os espaços públicos. A Barra, hoje dotada de poucos centros culturais, passaria a abrigar mais exposições e outras manifestações artísticas.
A Praça do Ó, no desenho de Niemeyer, se transforma em uma extensão da praia e ganha uma linha de VLT. Um estádio de futebol, cinemas, museus e teatros também aparecem nos projetos do arquiteto. A sede do Instituto Niemeyer e o museu dedicado à arquitetura complementariam este ambiente de lazer. Tudo em harmonia com os Parques Lineares.
— Vislumbrar um futuro mais promissor para a Barra perpassa imaginar soluções mais arrojadas de mobilidade urbana, adotando iniciativas que despoluam a paisagem e devolvam aos seus habitantes e usuários espaços arborizados e mais humanizados para serem percorridos a pé ou de bicicleta.
A adoção de Parques Lineares, intervenção bem-sucedida em outros cenários urbanos mundiais, certamente traria ganhos ambientais e urbanísticos, com a oferta de espaços dotados de bicicletários e demais equipamentos afins — explica ele, que é influenciado pela arquitetura moderna e, principalmente, pelos trabalhos do avô. 
Parque em plena Avenida das Américas seria espaço de lazer, além de favorecer pedestres e ciclistas
Paulo Sergio reconhece que, para os projetos se tornarem realidade, é preciso um estudo maior de urbanismo e uma parceria entre poder público e iniciativa privada.
Ele salienta que seria essencial que empresas privadas cedessem áreas para serem transformadas em locais de lazer e em museus, já que a maioria dos terrenos da Barra está ocupada.
‘RAMBLA’ À MODA DE BARCELONA
Avenida mais badalada da Barra, a Olegário Maciel foi transformada pelo arquiteto Victor Niskier em um passeio público com trilhos para VLT, uma inspiração que veio da Rambla, de Barcelona, boulevard no qual se concentram diversas opções de serviços e de lazer.
Livre de carros, o local privilegiaria o trânsito de pedestres, ciclistas e usuários de transporte de massa. Em seu projeto, o VLT funciona como um sistema articulador, que liga a Avenida das Américas à praia. A Olegário Maciel é apenas uma das vias em que seria possível colocar em prática sua ideia.
Niskier acredita que outras ruas paralelas à avenida poderiam ser beneficiadas com a implementação do transporte. 
O arquiteto Victor Niskier acredita na necessidade de investir em transporte público - Carmen Junqueira
. — O VLT é muito menos poluente que o BRT; sua manutenção é bem mais fácil, e ele é um tipo de transporte que interage de forma sutil com o pedestre, além de não ser necessário fazer escavações para sua implantação e de o custo ser barato quando comparado ao do metrô.
Ele tem ainda um controle automatizado, que demanda menos funcionários; bastam um operador e poucos fiscais. É bem mais espontâneo, tem tudo a ver com o Rio — defende Niskier. Para o arquiteto, a prospecção do futuro é um olhar atento do passado, quando os trilhos dos bondes dominavam o Centro da cidade.
Niskier ressalta que o VLT contribuiria para a diminuição do número de veículos circulando na Barra, já que faria ligação direta com o metrô. A via seria elevada ao nível da calçada e o trânsito de carros estaria restrito às vias perpendiculares, sem, portanto, prejudicar o comércio local. — Deixar a Olegário aberta para carros beneficia pouquíssima gente.
Transformá-la em uma rambla propicia a permanência das pessoas ali e cria um território de lazer e de serviços do qual o Rio ainda é muito carente. A Olegário já é um polo de entretenimento; só precisamos criar condições mínimas para que as pessoas permaneçam ali. 
O arquiteto Victor Niskier sonha reunir pedestres, ciclistas e usuários de transporte de massa no mesmo lugar - Divulgação
Especializado em conforto ambiental de edificações pela Universidade de Coimbra, em Portugal, ele frisa a necessidade de reduzir o número de carros particulares nas ruas.
—A mudança de postura em relação ao uso de carro é uma adaptação compulsória. A nossa cidade já não tem para onde crescer, os estacionamentos estão caríssimos, há um esgotamento de petróleo; é preciso investir em transporte público — crava.
Ele ressalta, ainda, a importância da atuação do município e do estado, tanto para a implementação do modal quanto para garantir a segurança na nova rambla. — O VL T é um transporte público de qualidade. Haveria ainda uma estratégia de segurança pública para o local. Esse projeto favoreceria o morador e também toda a cidade, que vive do turismo — resume ele.
A adoção de Parques Lineares, intervenção bem-sucedida em outros cenários urbanos mundiais, certamente traria ganhos ambientais e urbanísticos, com a oferta de espaços dotados de bicicletários e demais equipamentos afins — explica ele, que é influenciado pela arquitetura moderna e, principalmente, pelos trabalhos do avô. 
Parque em plena Avenida das Américas seria espaço de lazer, além de favorecer pedestres e ciclistas
Paulo Sergio reconhece que, para os projetos se tornarem realidade, é preciso um estudo maior de urbanismo e uma parceria entre poder público e iniciativa privada.
Ele salienta que seria essencial que empresas privadas cedessem áreas para serem transformadas em locais de lazer e em museus, já que a maioria dos terrenos da Barra está ocupada.
‘RAMBLA’ À MODA DE BARCELONA
Avenida mais badalada da Barra, a Olegário Maciel foi transformada pelo arquiteto Victor Niskier em um passeio público com trilhos para VLT, uma inspiração que veio da Rambla, de Barcelona, boulevard no qual se concentram diversas opções de serviços e de lazer.
Livre de carros, o local privilegiaria o trânsito de pedestres, ciclistas e usuários de transporte de massa. Em seu projeto, o VLT funciona como um sistema articulador, que liga a Avenida das Américas à praia. A Olegário Maciel é apenas uma das vias em que seria possível colocar em prática sua ideia.
Niskier acredita que outras ruas paralelas à avenida poderiam ser beneficiadas com a implementação do transporte. 
O arquiteto Victor Niskier acredita na necessidade de investir em transporte público - Carmen Junqueira
. — O VLT é muito menos poluente que o BRT; sua manutenção é bem mais fácil, e ele é um tipo de transporte que interage de forma sutil com o pedestre, além de não ser necessário fazer escavações para sua implantação e de o custo ser barato quando comparado ao do metrô.
Ele tem ainda um controle automatizado, que demanda menos funcionários; bastam um operador e poucos fiscais. É bem mais espontâneo, tem tudo a ver com o Rio — defende Niskier. Para o arquiteto, a prospecção do futuro é um olhar atento do passado, quando os trilhos dos bondes dominavam o Centro da cidade.
Niskier ressalta que o VLT contribuiria para a diminuição do número de veículos circulando na Barra, já que faria ligação direta com o metrô. A via seria elevada ao nível da calçada e o trânsito de carros estaria restrito às vias perpendiculares, sem, portanto, prejudicar o comércio local. — Deixar a Olegário aberta para carros beneficia pouquíssima gente.
Transformá-la em uma rambla propicia a permanência das pessoas ali e cria um território de lazer e de serviços do qual o Rio ainda é muito carente. A Olegário já é um polo de entretenimento; só precisamos criar condições mínimas para que as pessoas permaneçam ali. 
O arquiteto Victor Niskier sonha reunir pedestres, ciclistas e usuários de transporte de massa no mesmo lugar - Divulgação
Especializado em conforto ambiental de edificações pela Universidade de Coimbra, em Portugal, ele frisa a necessidade de reduzir o número de carros particulares nas ruas.
—A mudança de postura em relação ao uso de carro é uma adaptação compulsória. A nossa cidade já não tem para onde crescer, os estacionamentos estão caríssimos, há um esgotamento de petróleo; é preciso investir em transporte público — crava.
Ele ressalta, ainda, a importância da atuação do município e do estado, tanto para a implementação do modal quanto para garantir a segurança na nova rambla. — O VL T é um transporte público de qualidade. Haveria ainda uma estratégia de segurança pública para o local. Esse projeto favoreceria o morador e também toda a cidade, que vive do turismo — resume ele.