Assoreado, canal de Itaipu tem metade da vazão e impede troca de água do mar com lagoa


A formação de bancos de areia no canal está impedindo a entrada da água do mar na lagoa e retendo a poluição: espelho-d’água diminui e peixes estão morrendo - Luciola Villela




 Em meio à estiagem e assoreado, o canal de Itaipu tem menos da metade da sua vazão normal, volume jamais observado desde sua abertura, em 1979.



Ao longo de toda a sua extensão, a areia acumulada impede a troca de água entre o mar e a lagoa, provocando um cenário desolador. Sem ter por onde escoar, o esgoto jogado irregularmente nos rios que deságuam na lagoa muda completamente a paisagem.



 A falta de ações do poder público para conter a poluição e o tempo seco agravam a situação. Nas últimas semanas, moradores e frequentadores se surpreenderam com a quantidade de lixo aparente, a areia escurecida e o forte odor.



A prefeitura prepara o Plano de Gestão Ambiental do Sistema Lagunar de Piratininga e Itaipu, que definirá medidas de curto, médio e longo prazos para a recuperação e o manejo do ecossistema,  ainda não tem data para iniciar ações de melhorias. Enquanto isso, garças que vivem na lagoa dividem o espaço com urubus. 




— Alguma coisa precisa ser feita. A lagoa está mais assoreada que nunca. Isso é visível. O acúmulo de esgoto vai acelerar ainda mais a degradação. Um lugar que poderia ter um ecossistema de qualidade e melhorar a qualidade de vida das pessoas pode virar um problema, se nada for feito o quanto antes — alerta o biólogo Luiz Gonzaga Allochio Zucolotto, que já plantou sozinho mais de duas mil mudas de vegetação rasteira às margens da lagoa.




 Para o aposentado Marcos Gomes da Silva, que mora em Camboinhas há dez anos, a lagoa está morrendo. — Venho aqui diariamente e nunca vi a lagoa assim. A água está podre, e os peixes estão morrendo — reclama. 



Os problemas que se agravam no ecossistema da Lagoa de Itaipu são resultado de décadas de degradação. Desde que houve a abertura permanente do canal, feita pela construtora Veplan, o espelho-d’água se reduziu rapidamente, possibilitando o avanço de novos loteamentos.




 Um estudo realizado por pesquisadores da UFF constatou que, de 1976 até 2011, o corpo-d’água das lagoas de Piratininga e Itaipu perdeu cerca de 880 mil metros quadrados. Antes vilão, o canal se tornou instrumento importante para dar sobrevida à lagoa de Itaipu e renovar a água, segundo o professor de Ciência Ambiental da UFF Júlio Wasserman.




 — O ideal seria eliminar o despejo de esgoto. A solução é o saneamento do entorno das lagoas. Mas, na atual situação, a troca de água feita através do canal é fundamental para que a lagoa possa respirar. Temos um inverno seco, e o assoreamento agrava a situação.




 Não temos uma pressão de água saindo do canal, e a pressão da lagoa para o canal não é suficiente para permitir a troca de água. O mau cheiro que estamos sentindo é de gás sulfídrico de enxofre, nitrogênio e fósforo que estão em fezes e urina retidos na Lagoa, responsáveis pela mortandade de peixe — explica o especialista. Inserida na área de proteção do Parque Estadual da Serra da Tiririca, a Lagoa de Itaipu deixou de ser gerida pelo Instituto Estadual do Ambiente (Inea) há um ano.




Em junho do ano passado, a prefeitura de Niterói assumiu a responsabilidade pelo futuro do ecossistema das lagoas de Piratininga e Itaipu. Em documento, comprometeu-se a coordenar um plano que traça diretrizes para serem executadas num prazo de cinco anos.



Entre as ações planejadas estão a oxigenação para eliminar o lodo retido no fundo das águas e a revitalização do Canal do Camboatá e do entorno da Lagoa de Piratininga. Um ano depois de o compromisso ter sido firmado, a prefeitura mantém o planejamento, mas continua sem prazos para executar as ações anunciadas.



Segundo a prefeitura, “a prioridade nesse momento é a Lagoa de Piratininga”, e as intervenções em Itaipu dependerão do Plano de Gestão Ambiental do Sistema Lagunar, que será elaborado no âmbito do PRO-Sustentável, que prevê investimento de R$ 350 milhões na Região Oceânica.




Em nota, a prefeitura diz que a “ampliação da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) de Camboinhas trará efeito positivo para a qualidade das águas do Canal de Camboatá e da Lagoa de Itaipu”.



O programa PRO-Sustentável prevê a implantação do Parque Orla de Piratininga, que trará melhoria ao ecossistema e controle dos fatores de degradação da orla; pavimentação de vias; ampliação dos sistemas de drenagem; a renaturalização do Rio Jacaré; e ampliação do programa Se Liga, parceria do Inea com a prefeitura e a concessionária Águas de Niterói. Projeto já notificou 961 imóveis por despejo irregular de esgoto 




Urubu come resto de peixe morto na Lagoa de Itaipu: poluição está causando mortandade e degradação - Luciola Villela





O projeto Se Liga, desenvolvido pelo Instituto Estadual do Ambiente (Inea) em parceria com a prefeitura e a concessionária Águas de Niterói, já notificou 961 imóveis na cidade por despejo irregular de esgoto nas redes de águas pluviais das bacias hidrográficas dos rios Arrozal, Jacaré, Santo Antônio, João Mendes, Camboatá e São Francisco.




Do total, 862 imóveis se regularizaram, fazendo com que 336.180 litros de esgoto sem tratamento deixassem de desaguar na Baía de Guanabara e nas lagoas diariamente. Na última semana, um encontro entre os órgãos envolvidos no projeto selou a padronização dos procedimento de fiscalização.



 Segundo o Inea, as 862 notificações já atendidas em Niterói representam 90% do total de pontos de despejo irregular de esgoto identificados em toda a cidade. Nas últimas semanas, o projeto se estendeu à Ilha da Conceição, na Zona Norte.



No bairro, há 97 imóveis identificados pela Águas de Niterói que não estão conectados à rede pública de esgoto. O Inea já notificou 64. O instituto considera as ações do projeto mais expressivas quando as notificações são feitas diretamente para condomínios.



Nos bairros de Pendotiba e Maria Paula, 18 condomínios, que juntos somam 656 imóveis, foram notificados no último ano. Considerando a quantidade de casas vistoriadas nesses condomínios, o número de imóveis fiscalizados em Niterói salta para 1.617.




 O projeto atua com base em levantamento prévio dos imóveis que não têm conexão com a rede coletora. Os dados são colhidos pela Águas de Niterói e repassados à Superintendência Regional da Baía de Guanabara do Inea.



De posse das informações, o projeto notifica os proprietários dos imóveis a se adequarem em até 60 dias. Caso não seja cumprido o determinado na notificação, a multa inicial é de R$ 2,047.



 No início desta semana, fiscais da Secretaria municipal de Meio Ambiente participaram de um encontro com técnicos do Inea para o aperfeiçoamento da ação e a adoção de um novo procedimento metodológico.


Agora, as campanhas são ordenadas por bacias hidrográficas, em vez de setorizadas por bairros. Foram padronizados ainda os procedimentos de fiscalização e de emissão de atos administrativos. Segundo a prefeitura, a medida permitirá melhorar a percepção dos resultados.

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