Moradores se empenham no cultivo de horta comunitária no Aterro do Cocotá
Maná e Moreira ao lado das mudinhas nascidas ali - Marcelo de Jesus
RIO — Uma turma de insulanos trabalha firme para consolidar a transformação de um trecho do Aterro de Cocotá numa horta comunitária para uso livre de qualquer pessoa disposta a colaborar e meter a mão na terra . O que começou como uma iniciativa despretensiosa, tocada por uma pessoa, agora já movimenta mais de dez participantes, que se revezam no plantio, cuidado com a terra e fornecimento de mudas.
Começaram a remexer o solo há cinco meses, numa atividade de ensino de plantio que integrava o Programão Ilha, promovido pela Globo. Com o passar do tempo, as pessoas pararam de cuidar e a pequena hortinha, formada por apenas três fileiras, começou a cair no abandono.
Vendo aquilo cair em abandono, Randall Batista começou a utilizar o espaço para plantar girassóis, cujas sementes ele utiliza para alimentação própria. — Comecei a cuidar porque tava afim de ver as plantas crescerem ali, bonitas.
Comecei pelo girassol e quando eles começaram a crescer chamou a atenção do povo, porque não tem por aqui. E aí me viam cuidando e as pessoas começaram a ajudar, traziam mudas e tudo mais — conta Randall, que continua: — Mais recentemente que a coisa cresceu e apareceram cada vez mais pessoas. 
A ideia saiu num jornal local, o Ilha Notícias, e atraiu cada vez mais gente. Com mais braços, multiplicaram-se também a variedade de espécies: hoje já são mais de 100. Tem alface, cebola, couve, coentro, rúcula, tomate, salsa e outras hortaliças. Frutíferas como mamão, amora, manga, abacate, melão, lichia, entre outras.
Também há uma variedade de plantas medicinais. A hortinha é comunitária, portanto, aberta a qualquer um. Mas se todo mundo só for até ali para colher, lembra Randall, o desenvolvimento não vai à frente. Então a ideia é de que haja algum tipo de colaboração.
Quiser colher algo, por exemplo, pode ajudar trazendo casca de ovo, borra de café... A pessoa traz algo e gente dá mudinha, temperos e assim vai. Estamos fazendo uma composteira (espaço onde o lixo orgânico é depositado e através da decomposição forma um composto que serve de adubo, entre outros fins), então essas matérias ajudam. 
Francisco Moreira é um dos moradores que passaram a ajudar a cuidar da hortinha. Ele explica que uma ideia é que o local sirva, futuramente, para a alimentação da população carente no entorno. Pensando nisso é que foram plantadas frutíferas generosas como bananeiras, fruta do conde, laranjeira e amoreira.
Francisco, que é paisagista, tem uma horta em seu quintal e leva sementes para o espaço comunitário. Ele, no entanto, pede apoio da prefeitura para dar continuidade ao projeto.  — Todo mundo se reveza no cultivo. Eu, por exemplo, trago sementes da minha horta para plantar aqui.
Mas a prefeitura nunca nos ajudou com sementes ou com a manutenção. Se ajudasse, seria bem melhor — conta ele, que complementa: — Nosso plano é que moradores de rua possam vir aqui e comer o que quiserem. Há quem trabalhe diariamente ali, como Randall, e quem vá com menos frequência, como Moreira. E é fácil ver que o plantio desperta a curiosidade até de quem não tem nada a ver com a história. Ainda.
— Ah, que bonito, não tinha visto que é uma horta! — comentou Lisete Euclides da Silva, moradora do Dendê, que passava enquanto fotografavanos o local: — Quero passar a frequentar também, não tem nada como comer coisa fresca. A secretaria de Conservação e Meio Ambiente (Seconserma).
informou que, por meio do programa Hortas Cariocas, poderá fornecer ao grupo sementes e mudas de hortaliças e leguminosas, pequenos kits de ferramentas e eventual apoio técnico, além de material informativo para estimular a produção e consumo de alimentos orgânicos e oferta de alimentos sadios à população Para tanto, informa o órgão, a situação da hortinha precisa estar regularizada junto ao município.
Para auxiliar nos trâmites para a regularização do trabalho, a Seconserma informou que irá procurar os responsáveis pelo projeto. Quem tiver interesse em participar também é bem vindo. Não é difícil encontrá-los cuidando da terra por ali, é só chegar e se apresentar.