No Rio, 661 ônibus de linhas regulares deveriam estar ‘aposentados’

               
Ana Paula segura banco solto de ônibus da linha 865 - Gustavo Goulart


RIO - Fios expostos, bancos quebrados, pneus carecas. A má conservação dos ônibus, por si só, denuncia o descaso. No entanto, muitos já deveriam estar fora de circulação, segundo relatório da Secretaria municipal de Transportes.



A planilha, com dados de julho, revela que 661 ônibus da cidade precisariam ter sido “aposentados” por ultrapassarem os oito anos de vida útil, tempo máximo de operação, segundo o contrato de concessão assinado em 2010.



 O número equivale a 9% dos 7.240 coletivos de linhas regulares da cidade. Não entram nessa conta os veículos articulados do BRT nem os chamados “frescões”, cuja vida útil é de dez e 20 anos, respectivamente.



 De cada dez coletivos com prazo vencido, seis operam na Zona Oeste através dos consórcios Santa Cruz e Transcarioca. O primeiro concentra 209 ônibus acima do tempo limite, enquanto o segundo tem 196 coletivos. Na mesma região, estão as linhas com mais reclamações de passageiros relacionadas à conservação, como as de número 822, 865, 821, 361 e 891, que encabeçam o último ranking do município, com dados relativos a março, abril e maio deste ano.



 Na Zona Norte, operam 174 coletivos acima do prazo estabelecido e, na Zona Sul, há 82. Há dois anos, reportagem publicada pelo “Extra” apontava 534 ônibus em circulação “fora da data de validade”, o equivalente a 6% da frota total à época.



Ou seja, de lá para cá, houve um aumento desse tipo de situação. E o consultor em engenharia de transportes Horácio Augusto Figueira alerta para os perigos da idade avançada dos ônibus:    — Manter veículos antigos circulando pode aumentar a probabilidade de falhas mecânicas e gerar acidentes, o que, para mim, é um crime.




  embarcamos , ontem de manhã, no ônibus placa KWN 2538, da linha 865, e encontrou muita sujeira, bancos descolados e barra de apoio solta. Mal dava para ficar em pé segurando na barra, já que, solta, não oferecia segurança. Sentado, o usuário tremia tanto, supostamente por causa de parafusos frouxos, que era preciso segurar nas paredes e no apoio do banco da frente.




Além disso, a última vistoria do coletivo é de 2016 e, segundo um funcionário, se for inspecionado este ano será apreendido por que o prazo de uso já venceu. O ônibus é de 2010. — É um desrespeito — disse a dona de casa Ana Paula Sampaio, moradora de Jacarepaguá.  



 Em nota, a Secretaria municipal de Transportes informou que existe um procedimento em andamento para compelir os consórcios a observarem o tempo de vida útil do contrato. Já o Rio Ônibus, disse que “os números de vida útil da frota apontados pela reportagem não refletem a realidade do sistema” .



Apesar de terem sido excluídos do cálculo frescões e BRTs, o sindicato afirma que não foram considerados “os diferentes tipos de veículos com tempos de vida útil distintos”



RIO ÔNIBUS: RECLAMAÇÕES DIMINUÍRAM



 Sobre a falta de conservação, os consórcios Intersul, Internorte, Transcarioca e Santa Cruz afirmaram, em nota, que os investimentos na manutenção da frota de ônibus são feitos de forma contínua pelas empresas.



Destacou, no entanto, os dois congelamentos de tarifa realizados pela Prefeitura do Rio desde a assinatura do contrato de concessão, em 2010. Confira abaixo a íntegra da nota: "O setor reitera que o reajuste anual da tarifa, previsto no contrato de concessão, serve para recompor custos feitos no ano anterior com combustível, investimentos em veículos e mão de obra (em 2016, por exemplo, os salários dos rodoviários foram reajustados em 10%, índice acima da inflação).



O atraso no reajuste de 2017, que deveria ter ocorrido em janeiro, agrava os efeitos da crise econômica no setor, dificultando a manutenção dos veículos. É importante destacar que levantamento feito pela Ouvidoria da SMTR mostra queda de 45% nas reclamações sobre o sistema de ônibus, na comparação entre os cinco primeiros meses de 2017 e o mesmo período de 2016.



Também houve redução de 38% nas queixas relacionadas à frota. Vale ressaltar que o número total de reclamações registrados nos cinco primeiros meses de 2017 corresponde a 0,0016% do total de passageiros transportados nesse período no município.



 Essa melhoria nos indicadores é resultado direto das ações desenvolvidas desde 2008 pela Universidade Corporativa do Transporte (UCT), que criou o Código de Conduta do Motorista e já promoveu mais de 211 mil capacitações de rodoviários (com os treinamentos No Ponto Certo, Simulador de Direção, Motorista Cidadão, Rodoviário Carioca em Ação.



 Todas essas ações tiveram como reflexo a queda no número de reclamações contra os profissionais do setor registradas na SMTR: redução de 51% nas queixas contra motoristas que não param no ponto e de 32% sobre comportamento indevido.



Houve, ainda, queda de 57% nas reclamações sobre escassez de ônibus e de 61% sobre alteração de itinerário. Em relação ao estado de conservação dos ônibus, é fundamental lembrar os diversos casos de vandalismo, como lixo jogado no chão dos veículos, pichações dentro e fora dos ônibus, danos aos bancos, janelas e alçapões".

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