Usuários do Bilhete Único criticam falhas no sistema


RI - Rio, 22/08/2017, Problemas com o RioCard - Problemas com o RioCard. Na foto, fila no posto de atendimento na Central do Brasil. Foto: Márcio Alves



RIO - Apressada, a recepcionista Dayse saiu irritada da loja do RioCard que funciona na estação Siqueira Campos do metrô, em Copacabana, na tarde da última quinta-feira. Ela só tinha uma nota de R$ 20 e precisava recarregar dois cartões, cada um com crédito de R$ 10.




Dayse precisava do dinheiro trocado para usar na máquina de autoatendimento — pois a fila do guichê estava longa — e tentou trocar a cédula numa loja ao lado, em vão. Como não podia aguardar, ela foi embora com os bilhetes sem os créditos necessários para usar nos dois meios de transporte com desconto.



 — É um absurdo que essas maquininhas não deem troco. Preciso carregar os cartões, mas não consigo. Dei uma fugida, mas tenho que voltar rápido para o trabalho — reclamou Dayse, que não informou o sobrenome.



 A falta de troco no autoatendimento está longe de ser o único problema do nada funcional sistema de bilhetagem eletrônica, operado pela RioCard, empresa criada pela Fetranspor e que faz parte da holding Riopar. Usuários se queixam de filas, de serem obrigados a ir a lojas até mesmo para desbloquear um cartão, do confisco de créditos não utilizados durante um ano e do pagamento de R$ 26,60 pela segunda via de um cartão de gratuidade.




Também lamentam que os bilhetes não permitam uma integração, de fato, com outros meios de transporte, o que, na avaliação do professor Paulo Cezar Ribeiro, da Coppe/UFRJ, é o mais grave: — Estamos mal. Chamam de bilhete único, mas existem vários cartões e não há integração.


Agora, só quem ganha até R$ 3 mil pode ter os benefícios do cartão intermunicipal. O bilhete carioca não tem integração com o metrô e deixou de ter com a SuperVia. O RioCard tem que ser repensado. Está mais do que na hora de as autoridades estaduais e municipais darem uma reviravolta no sistema.



 A promotora de vendas Célia Regina Viggiani foi surpreendida ao tentar recarregar seu RioCard no autoatendimento que funcionava na calçada em frente ao prédio da Secretaria estadual de Transportes, na Avenida Nossa Senhora de Copacabana 493. Um papel informava que o serviço foi transferido, dia 11, para a estação Siqueira Campos do metrô.



 — Estava acostumada a recarregar aqui. Podiam facilitar, não é? Que transtorno. Agora, vou ter que ir até a Siqueira Campos — reclamou. É na Siqueira Campos que Zenaide Moraes passou a recarregar o cartão. Moradora de Caxias, ela desistiu da loja da Central por causa das filas. — Já perdi mais de uma hora na Central. São quilométricas — conta Zenaide, que trabalha em uma lavanderia em Copacabana.




 — Na Siqueira Campos, as filas são um pouco menores. O grande problema é que, nas máquinas, não conseguimos troco. Na Central, no subsolo e no térreo, usuários encontram máquinas de autoatendimento, todas com filas.




No entanto, se precisarem de troco, são obrigados a aguardar, numa fila grande e única, vaga em um dos quatro guichês instalados no térreo, disputados por pessoas que precisam de outros serviços que não podem ser feitos pelo site ou por telefone.



‘Nunca vi dinheiro caducar’ Mesmo tendo sido roubada num ônibus em 5 de agosto, a estudante de comunicação Jéssica Moura, cotista da UFRJ e moradora de Triagem, precisou pagar R$ 26,60 para conseguir a segunda via de seu bilhete: — Erraram no registro policial.




Na delegacia, escreveram que perdi o comum, e não o universitário. Não prestei atenção. Cheguei ao posto e não aceitaram. Estou sem dinheiro e precisei chamar um amigo para me ajudar. Não posso estudar se não tiver o bilhete. Não posso pagar.



 O designer Roberto de Albuquerque diz que o maior dos absurdos é os créditos expirarem em um ano, se os cartões não forem utilizados: — Isso é roubo. O dinheiro é de quem o coloca no cartão. O professor Paulo Cezar Ribeiro concorda com o usuário: — Nunca vi dinheiro caducar. Uma lei de abril deste ano estabeleceu que, no caso do bilhete inativo por um ano, os créditos devem ser repassados para o Fundo Estadual de Transportes.




Mas a Fetranspor, federação que congrega as empresas de ônibus, foi à Justiça. Com a questão sub judice, as sobras continuam indo para a entidade que representa os donos de empresas de ônibus. Criado em 2010, o Bilhete Único Carioca, de R$ 3,80, prevê a utilização de dois ônibus municipais, um ônibus e um BRT, um ônibus e um VLT ou dois trens do VLT num período de 2h30m.



Desde 16 de junho, a SuperVia deixou de fornecer o desconto na integração com ônibus municipais (a tarifa integrada era R$ 6,60), alegando razões econômicas. A Secretaria municipal de Transportes se limita a dizer que “há interesse da prefeitura em concretizar a integração tarifária”, mas que ainda são necessários estudos de viabilidade e o processo envolve modais estaduais.



 Por e-mail, a RioCard diz que realiza estudos para melhorar o sistema de pagamento eletrônico, inclusive no autoatendimento. O uso de máquinas que dão troco, de acordo com a RioCard, “exigiria uma outra estrutura com novos investimentos que ainda estão sendo avaliados”.




 A empresa alega que as máquinas aceitam cartão de débito. Com lei sub judice, sobras de cartão vão para Fetranspor Uma lei de abril deste ano estabeleceu que, no caso do bilhete inativo por um ano, os créditos devem ser repassados para o Fundo Estadual de Transportes.



Mas a Fetranspor, federação que congrega as empresas de ônibus, foi à Justiça. Com a questão sub judice, as sobras continuam indo para a entidade que representa os donos de empresas de ônibus. A bilhetagem eletrônica no estado nasceu em 2004, mas a implementação do sistema foi gradativa.



O serviço do Bilhete Único Intermunicipal começou há sete anos. Desde a última quinta-feira, no entanto, para ter direito ao desconto do cartão, o usuário tem de se recadastrar e declarar que tem uma renda mensal de até R$ 3 mil.



Quem ganha acima desse valor, perde o benefício de pagar R$ 8 para embarcar, num espaço de três horas, em dois ônibus; ou em um ônibus e no metrô, no trem ou na barca. Também tem de pagar R$ 8,10 em vez de R$ 7 para continuar usando o metrô e o BRT (embarques só nas estações Jardim Oceânico e Vicente de Carvalho).



 Criado em 2010, o Bilhete Único Carioca, hoje de R$ 3,80, prevê a utilização de dois ônibus municipais, um ônibus e um BRT, um ônibus e um VLT ou dois trens do VLT, num período de 2h30m. Desde 16 de junho, a SuperVia deixou de fornecer o desconto na integração com ônibus municipais (a tarifa integrada era de R$ 6,60), alegando razões de conjuntura econômica.



A Secretaria municipal de Transportes se limita a dizer que “há interesse da prefeitura em concretizar a integração tarifária”, mas que ainda são necessários estudos de viabilidade e que o processo envolve modais estaduais. Por e-mail, a RioCard garante que realiza estudos para melhorar o sistema de pagamento eletrônico, inclusive no autoatendimento.



O uso de máquinas que dão troco, no entanto, de acordo com a RioCard, “exigiria uma outra estrutura com novos investimentos que ainda estão sendo avaliados”. Mas a empresa lembra que as máquinas aceitam cartões de débito. A empresa confirma que alguns serviços só podem ser realizados em uma das suas 26 lojas físicas.



 É de recadastramento de gratuidades; pedido e retirada de segunda via de cartões com defeito; devolução do cartão para ressarcimento; e impossibilidade de acesso ao site em casos de perda de login e senha. As demais operações e solicitadas podem ser feitas através do site ou pela Central de Atendimento.



 Além dos postos, a recarga dos cartões pode ser feita em cerca de 1.900 pontos em todo o estado e pela internet. Ao todo, há sete milhões de cartões (municipais e intermunicipais) ativos, sendo dois milhões de gratuidades, que realizaram 157 milhões de transações eletrônicas em julho.



 ENQUANTO ISSO... Na Argentina, tarifa social para pobres



 JANAINA FIGUEIREDO, DE BUENOS AIRES. Em 2011, o então governo da ex-presidente da Argentina Cristina Kirchner criou o Sistema Único de Passagem Eletrônica (Sube, na sigla em espanhol), que continua vigente até hoje e permite aos usuários do transporte público pagar com seu cartão pessoal pedágios e passagens de ônibus, metrô e trem na capital do país e nas cidades de Mar del Plata, Villa Gesell, Partido do Litoral, Pinamar, Bahia Blanca, Corrientes, Neuquén, Rio Grande, Ushuaia, Formosa, Paraná, Santa Fe e Jujuy.



 Em outras cidades e estados, como Mendoza e Córdoba, foram criados sistemas similares ao Sube. O cartão é carregado pelos usuários em lojas, pagando em dinheiro, cartão de débito ou crédito. No ano passado, o governo do presidente Mauricio Macri lançou a tarifa social do Sube, com desconto de 55% para aposentados, veteranos da Guerra das Malvinas (1982), beneficiários de programas sociais do governo, empregadas domésticas e trabalhadores independentes.



A tarifa social representa um importante alívio para as classes baixas argentinas, em meio a uma recessão econômica. O Sube funciona bem e deu bons resultados na Argentina. É um sistema simples, que não traz grandes complicações aos usuários, nem ao setor de transportes.



Hoje, a grande maioria dos argentinos e estrangeiros (para obter o cartão é preciso ter um documento de residência local) que vivem nas regiões onde o sistema foi implementado têm o Sube. Em Nova York, R$ 1,3 Bi para mudar sistema


 HENRIQUE GOMES BATISTA, DE WASHINGTON.


Em Nova York, o tradicional Metrocard, sucesso desde 1993, está em vias de ser extinto: a Autoridade Metropolitana de Transporte (MTA) anunciou que pretende renovar completamente o sistema de cobrança, buscando um método em que não seja preciso passar a tarjeta magnética nas roletas, ou seja, um sistema sem “contato físico” e que permita, inclusive, o pagamento com celulares.



O objetivo é tornar mais rápida a entrada das pessoas nos ônibus, metrôs e trens de Nova York. O governo espera gastar US$ 419 milhões (R$ 1,34 bilhão) com a mudança, que deverá começar a ser testada no próximo ano. O sistema será a única forma de pagamento dos transportes públicos de Nova York até 2022.



 O sistema unificado — que permite uma baldeação em duas horas sem cobrança de outra tarifa — também pode ser ampliado, para incluir os ferry boats. Mas a maior polêmica do ano foi o aumento da passagem: a viagem individual continua sendo US$ 2,75 (R$ 8,80), mas os tíquetes semanais e mensais subiram, e agora custam US$ 32 para o período de sete dias (R$ 102) e US$ 121 para 30 dias (R$ 387).


 Já em Washington, há um sistema semelhante, o Smartrip, que integra metrô com ônibus. Mas o valor é outro problema: a cobrança é feita com base na distância percorrida, e uma viagem de metrô pode custar até US$ 6 (R$ 19,20). Além de caro, o sistema está muito instável, devido às reformas feitas aos poucos em trens e estações, causando atrasos e bloqueios.

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