Estacionamentos ilegais, supostamente controlados por milicianos, são denunciados em unidades de conservação

Estacionamento em Grumari é alvo de críticas - Fabio Rossi
RIO - Quando tomou posse, em apenas um ato o prefeito Marcelo Crivella exonerou todos os ocupantes de cargos em comissão. A medida afetou os gestores dos parques naturais municipais, e muitos destes espaços seguem sem administrador oficial.
O fato tem preocupado moradores e frequentadores dessas áreas de preservação ambiental que constantemente precisam de cuidados especiais de outros setores do poder público, geralmente, mobilizados pelo ocupante do cargo. Embora a temática ambiental seja a principal preocupação, a segurança da área também aflige as comunidades do entorno.
Atualmente, cinco parques da região não tem gestores formalmente nomeados: Bosque da Barra, Bosque da Freguesia, Grumari, Prainha e Nelson Mandela. Procurada, a Secretaria de Conservação e Meio Ambiente (Seconserma) afirma que alguns dos antigos administradores serão reconduzidos ao cargo e outros já foram escolhidos.
Apenas o Parque de Marapendi manteve sua gestora, Rosana Junqueira. Enquanto isso, segundo moradores e frequentadores das áreas protegidas da região, a principal preocupação é com a expansão da milícia que estaria atuando na Praia de Grumari. Banhistas relatam que, frequentemente, é possível ver homens armados no local, explorando estacionamentos irregulares em áreas públicas e terrenos privados.
De acordo com um frequentador, que prefere não ser identificado, eles intimidam os motoristas e cobram R$ 15 por vaga.  — Um dia, um surfista foi cobrado quando voltou para o carro e disse que não pagaria, porque sempre parava na área e nunca precisava fazê-lo.
Então, um dos homens passou um rádio para um comparsa, que apareceu no local, de moto, para pressionar o rapaz. Naquele momento, passou um carro da polícia. O surfista o parou e explicou a situação, mas o policial respondeu “vocês que se resolvam” e foi embora — afirma.
Informada sobre a denúncia , A delegada da 42ª DP, Marcia Julião, diz que vai investigar a questão. — Na semana passada eu iniciei uma investigação sobre milícia na Praia do Recreio, a partir de uma notícia publicada no jornal “Extra”.
Agora, vou estender o trabalho a Grumari — afirma.  Presidente da Associação de Surfistas e Amigos da Prainha (Asap), Antônio Abrantes, mais conhecido como Neném, afirma que milicianos também já tentaram se estabelecer no local, mas a ação da entidade junto ao poder público impediu que isso acontecesse.
Ele salienta que a ausência de gestor formal fez com que o parque enfrentasse problemas de diversas naturezas durante o carnaval. — O Parque da Prainha tinha dois guardas municipais.
Mas, desde o dia 22 de fevereiro, tem apenas um. O outro foi para a Zona Sul. É preciso um gestor para lutar contra esse tipo de coisa e traçar planos de trabalho. A área chegou a sofrer com falta de abastecimento de água e de luz, porque a iluminação era feita por energia solar, e as placas estavam velhas e danificadas.
Como trabalhar no breu?
É impossível. É nesse vácuo de atuação do poder público que a milícia costuma se estabelecer. Nossa associação é uma entidade civil sem fins lucrativos, não tem condições de fazer esse tipo de coisa sozinha — afirma. 
Irregular. Um dos pontos na Reserva onde houve supressão de vegetação para a criação de vagas - Fabio Rossi / Fabio Rossi
Exonerado com a posse de Crivella, Abílio Fernandes era o gestor do Parque da Prainha e, segundo a Seconserma, voltará ao cargo, além de assumir também o Parque de Grumari. Fernandes, inclusive, continua dando expediente na Prainha.
O mesmo acontecerá com o Bosque da Barra, onde Ricardo Egypto será novamente nomeado, afirma a pasta. No Bosque da Freguesia, a nova gestora será Eliana Zanini. Há tempos, frequentadores da área clamam pelo ordenamento do trabalho dos guardadores de carro na região.
Em 2015, na assembleia do Conselho Consultivo do Parque Natural da Praia, cujo teor foi publicado em ata, o então gestor Abílio Fernandes ressaltou a necessidade de implementar o sistema de estacionamento do tipo Período Único, ou Vaga Certa, ou seja, com o uso do talão de cobrança.
Comandante interino do 31º BPM (Barra da Tijuca), o major Vanildo Sena não quis comentar a denúncia de suposta ação de milicianos na área dos parques. — Trabalho de investigação é atribuição da Polícia Civil. E definição de áreas de estacionamento e fiscalização delas é função do município — diz.
A Guarda Municipal, por sua vez, informa que atua na Prainha e em Grumari com guardas dos grupamentos de Defesa Ambiental, Especial de Praia e Especial de Trânsito. Os agentes fazem ações de proteção da fauna e da flora, ordenamento urbano e organização do trânsito, respectivamente.
Sobre a queixa de ausência de guardas, principalmente nos dias de semana, a GM afirma que patrulha os dois locais diariamente. Prejuízos para a fauna e flora Do lado direito da Praia da Reserva, em direção à Lagoa do Marapendi, está o Parque Municipal Nelson Mandela.
A área tem 1,6 milhão de metros quadrados, 400 mil mais que o Parque do Flamengo, fica dentro da Área de Preservação Ambiental (APA) de Marapendi e foi incorporada pelo município por meio de uma Operação Urbana Consorciada (OUC) como uma medida compensatória para a construção do campo olímpico de golfe.
O projeto foi lançado pela prefeitura em julho de 2015 e previa um investimento de R$ 10 milhões.
No entanto, desde então, apenas a delimitação da área aconteceu.  Atuação de flanelinhas entre Prainha e Grumari - Fábio Rossi / 17-1-2017
Ao longo da Avenida Lucio Costa, que tem, em uma margem, a praia e, na outra, o parque, há diversas entradas para estacionamentos clandestinos. Um morador com residência próxima à área, que pede para ter o nome preservado, explica que eles são abertos com remoção da vegetação que separa a avenida e a lagoa.
— Como essa é uma vegetação de restinga, não há previsão legal para estacionamentos. Todos são clandestinos e, a maioria deles já foi fechada mais de uma vez. Mas eles sempre acabam reabrindo — afirma.
A abertura de clarões na mata ameaça a sobrevivência de espécies nativas de Mata Atlântica, que enfrentam risco de extinção. Membro do Conselho Gestor do Mosaico Carioca, órgão criado no ano passado, que envolve entidades da sociedade civil e gestores públicos, o ambientalista Marcello Mello critica a criação de parques sem que eles sejam estruturados e dotação orçamentária.
— Essa é uma teoria que batizamos como parques de papel. Sem que o parque seja instalado, ou com redução dos investimentos, o que não permite que se consolidem, os problemas se multiplicam.
A abertura de estacionamentos acaba com borboletas-da-praia, lagartixas brancas e sabiás-da-praia. E ainda atrapalha a fixação das dunas, já que a vegetação é removida e, sem as raízes, isso não acontece.
A fixação ajuda a impedir o avanço do mar sobre o continente — afirma. A prefeitura diz que o Parque Nelson Mandela não tem gestor nem atuação da Guarda Municipal porque ainda não foi aberto.
Estacionamento em Grumari é alvo de críticas - Fabio Rossi
RIO - Quando tomou posse, em apenas um ato o prefeito Marcelo Crivella exonerou todos os ocupantes de cargos em comissão. A medida afetou os gestores dos parques naturais municipais, e muitos destes espaços seguem sem administrador oficial.
O fato tem preocupado moradores e frequentadores dessas áreas de preservação ambiental que constantemente precisam de cuidados especiais de outros setores do poder público, geralmente, mobilizados pelo ocupante do cargo. Embora a temática ambiental seja a principal preocupação, a segurança da área também aflige as comunidades do entorno.
Atualmente, cinco parques da região não tem gestores formalmente nomeados: Bosque da Barra, Bosque da Freguesia, Grumari, Prainha e Nelson Mandela. Procurada, a Secretaria de Conservação e Meio Ambiente (Seconserma) afirma que alguns dos antigos administradores serão reconduzidos ao cargo e outros já foram escolhidos.
Apenas o Parque de Marapendi manteve sua gestora, Rosana Junqueira. Enquanto isso, segundo moradores e frequentadores das áreas protegidas da região, a principal preocupação é com a expansão da milícia que estaria atuando na Praia de Grumari. Banhistas relatam que, frequentemente, é possível ver homens armados no local, explorando estacionamentos irregulares em áreas públicas e terrenos privados.
De acordo com um frequentador, que prefere não ser identificado, eles intimidam os motoristas e cobram R$ 15 por vaga.  — Um dia, um surfista foi cobrado quando voltou para o carro e disse que não pagaria, porque sempre parava na área e nunca precisava fazê-lo.
Então, um dos homens passou um rádio para um comparsa, que apareceu no local, de moto, para pressionar o rapaz. Naquele momento, passou um carro da polícia. O surfista o parou e explicou a situação, mas o policial respondeu “vocês que se resolvam” e foi embora — afirma.
Informada sobre a denúncia , A delegada da 42ª DP, Marcia Julião, diz que vai investigar a questão. — Na semana passada eu iniciei uma investigação sobre milícia na Praia do Recreio, a partir de uma notícia publicada no jornal “Extra”.
Agora, vou estender o trabalho a Grumari — afirma.  Presidente da Associação de Surfistas e Amigos da Prainha (Asap), Antônio Abrantes, mais conhecido como Neném, afirma que milicianos também já tentaram se estabelecer no local, mas a ação da entidade junto ao poder público impediu que isso acontecesse.
Ele salienta que a ausência de gestor formal fez com que o parque enfrentasse problemas de diversas naturezas durante o carnaval. — O Parque da Prainha tinha dois guardas municipais.
Mas, desde o dia 22 de fevereiro, tem apenas um. O outro foi para a Zona Sul. É preciso um gestor para lutar contra esse tipo de coisa e traçar planos de trabalho. A área chegou a sofrer com falta de abastecimento de água e de luz, porque a iluminação era feita por energia solar, e as placas estavam velhas e danificadas.
Como trabalhar no breu?
É impossível. É nesse vácuo de atuação do poder público que a milícia costuma se estabelecer. Nossa associação é uma entidade civil sem fins lucrativos, não tem condições de fazer esse tipo de coisa sozinha — afirma. 
Irregular. Um dos pontos na Reserva onde houve supressão de vegetação para a criação de vagas - Fabio Rossi / Fabio Rossi
Exonerado com a posse de Crivella, Abílio Fernandes era o gestor do Parque da Prainha e, segundo a Seconserma, voltará ao cargo, além de assumir também o Parque de Grumari. Fernandes, inclusive, continua dando expediente na Prainha.
O mesmo acontecerá com o Bosque da Barra, onde Ricardo Egypto será novamente nomeado, afirma a pasta. No Bosque da Freguesia, a nova gestora será Eliana Zanini. Há tempos, frequentadores da área clamam pelo ordenamento do trabalho dos guardadores de carro na região.
Em 2015, na assembleia do Conselho Consultivo do Parque Natural da Praia, cujo teor foi publicado em ata, o então gestor Abílio Fernandes ressaltou a necessidade de implementar o sistema de estacionamento do tipo Período Único, ou Vaga Certa, ou seja, com o uso do talão de cobrança.
Comandante interino do 31º BPM (Barra da Tijuca), o major Vanildo Sena não quis comentar a denúncia de suposta ação de milicianos na área dos parques. — Trabalho de investigação é atribuição da Polícia Civil. E definição de áreas de estacionamento e fiscalização delas é função do município — diz.
A Guarda Municipal, por sua vez, informa que atua na Prainha e em Grumari com guardas dos grupamentos de Defesa Ambiental, Especial de Praia e Especial de Trânsito. Os agentes fazem ações de proteção da fauna e da flora, ordenamento urbano e organização do trânsito, respectivamente.
Sobre a queixa de ausência de guardas, principalmente nos dias de semana, a GM afirma que patrulha os dois locais diariamente. Prejuízos para a fauna e flora Do lado direito da Praia da Reserva, em direção à Lagoa do Marapendi, está o Parque Municipal Nelson Mandela.
A área tem 1,6 milhão de metros quadrados, 400 mil mais que o Parque do Flamengo, fica dentro da Área de Preservação Ambiental (APA) de Marapendi e foi incorporada pelo município por meio de uma Operação Urbana Consorciada (OUC) como uma medida compensatória para a construção do campo olímpico de golfe.
O projeto foi lançado pela prefeitura em julho de 2015 e previa um investimento de R$ 10 milhões.
No entanto, desde então, apenas a delimitação da área aconteceu.  Atuação de flanelinhas entre Prainha e Grumari - Fábio Rossi / 17-1-2017
Ao longo da Avenida Lucio Costa, que tem, em uma margem, a praia e, na outra, o parque, há diversas entradas para estacionamentos clandestinos. Um morador com residência próxima à área, que pede para ter o nome preservado, explica que eles são abertos com remoção da vegetação que separa a avenida e a lagoa.
— Como essa é uma vegetação de restinga, não há previsão legal para estacionamentos. Todos são clandestinos e, a maioria deles já foi fechada mais de uma vez. Mas eles sempre acabam reabrindo — afirma.
A abertura de clarões na mata ameaça a sobrevivência de espécies nativas de Mata Atlântica, que enfrentam risco de extinção. Membro do Conselho Gestor do Mosaico Carioca, órgão criado no ano passado, que envolve entidades da sociedade civil e gestores públicos, o ambientalista Marcello Mello critica a criação de parques sem que eles sejam estruturados e dotação orçamentária.
— Essa é uma teoria que batizamos como parques de papel. Sem que o parque seja instalado, ou com redução dos investimentos, o que não permite que se consolidem, os problemas se multiplicam.
A abertura de estacionamentos acaba com borboletas-da-praia, lagartixas brancas e sabiás-da-praia. E ainda atrapalha a fixação das dunas, já que a vegetação é removida e, sem as raízes, isso não acontece.
A fixação ajuda a impedir o avanço do mar sobre o continente — afirma. A prefeitura diz que o Parque Nelson Mandela não tem gestor nem atuação da Guarda Municipal porque ainda não foi aberto.
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