Usuários de ônibus da Grande Tijuca sofrem com precariedade de serviç
Usuárias. Verane Coutinho e a filha, Luane, no local onde funcionava o ponto final do ônibus 226 - Fábio Guimarães
RIO — Ônibus que demoram a passar; mudanças arbitrárias do trajeto; extinção de linhas sem aviso prévio; e racionalização que não funciona na prática são reclamações de usuários de ônibus na região.
A linha 226 (Grajaú-Carioca), por exemplo, consta como líder no ranking de reclamações a respeito do nível do serviço (que observa a escassez de carros e o intervalo) na área RTR-2, referente ao consórcio Intersul (Centro, Grande Tijuca e Zona Sul) no último balanço divulgado pela Secretaria Municipal de Transportes (SMTR), referente aos meses de setembro, outubro e novembro.
No ranking geral das linhas de toda a cidade, ela aparece em 13º. Os ônibus pararam de circular em 2017, quando os consórcios definiram alterações em linhas, frotas e pontos, com base em relatório que apontou as principais falhas no sistema durante a gestão de Eduardo Paes (PMDB) na prefeitura.
Na ocasião, uma auditoria fez um raio X do sistema de transporte no Rio e constatou que os empresários eram responsáveis pelas decisões porque a prefeitura não tinha equipe qualificada para fazer a gestão.
Também foram apontados problemas como altas tarifas, falta de controle dos custos, baixa qualidade dos ônibus e desrespeito a regras.  Mesmo tendo saído de circulação há quase um ano, segundo relatos de moradores, a linha 226 ainda aparece numa placa da Praça Edmundo Rêgo, no Grajaú, onde funcionava o seu ponto final.
A Viação Tijuca também nega que a 226 tenha sido extinta, informando que a frota foi reduzida com autorização da SMTR devido à baixa demanda de passageiros. Enquanto isso, coletivos das linhas 434, 436 e 608 (integração com o metrô), que também têm ponto final na praça, porém, em espaços distintos, tomaram o lugar do 226. Luane Coutinho, de 17 anos, costumava pegar o 226 para chegar à escola, na Rua Almirante Cochrane.
Agora ela é obrigada a andar até a Rua Barão do Bom Retiro para pegar o 606 (Engenho de Dentro — Rodoviária). — Se o serviço acabou, que retirem a placa. Isso dá confusão. O 226 virou 608, ônibus de integração com o metrô. Só que o 608 só vai até a Saens Peña.
O acesso à Mariz e Barros, por exemplo, é difícil para quem mora no Grajaú. É preciso pegar outro ônibus.  O engenheiro Fernando Silva, secretário da Associação de Moradores do Grajaú, diz que o serviço no bairro deixa a desejar, e que pretende recorrer ao Ministério Público caso os problemas não sejam solucionados.
— Continuamos com muitas queixas. Fizemos um ofício em junho de 2017, solicitando providências quanto ao 226, que ainda consta como operacional, mas sumiu. Fizemos outro ofício, em outubro, com todas as queixas. Ambos foram direcionados e protocolados junto à Superintendência da Grande Tijuca, que prometeu agir, mas, até hoje, nada.
Estamos tentando nos reunir com a SMTR para ver o que podem fazer. Se não tivermos êxito, vamos ao prefeito ou, se for o caso, reuniremos a documentação e solicitaremos ao MP as medidas cabíveis — afirma Silva. Linha 203 também é alvo de reclamações Segunda pior linha do Consórcio Intersul no ranking sobre o nível de serviço, a 203 (Rio Comprido — Candelária) foi criada no começo de 2016, junto com a 134 (Rio Comprido — Largo do Machado), após a extinção da 401 (Rio Comprido — São Salvador) e da 410 (Saens Peña — Gávea, via Lapa).
Esse movimento de extinção e criação de linhas integra um projeto de reorganização dos ônibus que circulam pelo Centro. De acordo com usuários, o 203, além de sumir de circulação com frequência, foge do trajeto original: em vez de seguir pela Praça Onze, corta pelo Catumbi, como o 134. — Foi a SMTR que desenhou e elaborou esse trajeto da Praça Onze.
É um absurdo o que a Viação Alpha vem fazendo. Coloca a frota na hora que bem entende, com ônibus que não respeitam o trajeto original. Pretendemos entrar com uma representação no Ministério Público contra a empresa — diz Pedro Souza, morador. Com a reorganização recente, regiões da cidade deixaram de ser atendidas pelo serviço de transporte.
Entre elas, a Praça Onze (onde antes circulava o 203) e o Aterro do Flamengo (acessível pela antiga 410, mas não pela atual, que segue pelo Túnel Santa Bárbara). O 134, por sua vez, entra pela Glória e passa pelo Catete para seguir ao Largo do Machado.
Em meio a esses problemas, moradores sugeriram ao SMTR, em reunião em junho de 2017, que o 410 voltasse ao trajeto original, pela Lapa e Aterro, mas sem tirar o acesso atual, via Túnel Santa Bárbara, para não prejudicar quem tem destino final na Zona Sul. Outro pedido foi o retorno da linha 401, com a ressalva de se manter a mudança no trajeto da 202 (Rio Comprido — Castelo), que iria só até a Candelária, pela Avenida Presidente Vargas, em vez de entrar pela Avenida Passos em direção à Praça Tiradentes, como faz atualmente.
Caso isso acontecesse, o 203 e o 134 poderiam ser extintos, pois ficariam sem funcionalidade. — Com a volta do 401, a Praça Onze seria novamente atendida, o que o 203 não faz. E como não há mais o mergulhão da Perimetral em direção à Zona Sul, o 401 pegaria o trajeto do Centro hoje percorrido pelo 202, via Castelo (Avenida Passos, Praça Tiradentes, Rua Visconde de Rio Branco, Largo da Carioca, avenidas Nilo Peçanha, Graça Aranha, Calógeras e Beira Mar), indo depois para o Largo do Machado.
Já o 202 mudaria e iria só até a Candelária, com trajeto pela Presidente Vargas. O 134 também poderia ser extinto — sugere Souza.
A Viação Alpha, responsável pelos ônibus da linha 203, comunicou que os coletivos continuam operando normalmente. Já a SMTR informou que o setor de fiscalização autuou o consórcio que opera a 226 e a 203 por inoperância do serviço (valor de R$ 1.664,03 por linha e por dia de interrupção).