Sem as linhas 581 e 582, usuários perderam conexão com o Rebouças e tempo de viagem aumentou


Ônibus da linha 581, que passava pelo Túnel Rebouças, não circula mais, assim como o 582 - Márcio Alves/27-01-2016




 RIO — Moradora do Cosme Velho, Carla Leitão trabalha como professora na PUC. Para chegar ao trabalho ela sempre pegava o ônibus em frente a sua casa, atravessava o Túnel Rebouças, passava pelo Jardim Botânico e, em 20 minutos, estava na Gávea. Com o fim das linhas 581 (Leblon x Cosme Velho) e 582 (Leblon x Urca), Carla passou a pegar o 583 (Cosme Velho x Leblon).



Resultado: quase duas horas por dia a mais no trânsito, já que, diferentemente das duas primeiras linhas, o 583 não passa pelo Túnel Rebouças, e sim por Botafogo.



Gasto mais de uma hora passeando por Laranjeiras, Botafogo e Humaitá. Sem falar no engarrafamento, que é diário. Com o fim das linhas 581 e 582, o Rebouças foi fechado para pessoas que moram em bairros com transporte complicado, como Urca, Laranjeiras e Cosme Velho — diz a professora, contando que, muitas vezes, utiliza aplicativos de transporte para ganhar tempo.



— Estudantes, por exemplo, não podem fazer isso porque aumenta muito os custos. Carla é mais uma das passageiras que foram diretamente afetadas pelo fim das linhas que eram operadas pela empresa Transportes São Silvestre, que encerrou as atividades em dezembro passado.



O presidente do Rio Ônibus, Cláudio Callak, explicou que as linhas atendidas pela companhia foram assumidas pelo Consórcio Intersul, um dos quatro administrados pelo sindicato, num plano emergencial de contingência.



No entanto, Callak reconheceu a dificuldade para cobrir todas as linhas da empresa. Nem mesmo o aumento da passagem de R$ 3,40 para R$ 3,60, válido desde a última segunda-feira, parece oferecer uma saída para o problema.



Segundo ele, o reajuste foi abaixo do previsto.  — Essas linhas (581 e 582) serão supridas, mas antes precisamos resolver o impasse tarifário com a prefeitura (um segundo reajuste está sendo calculado e poderá entrar em vigor em breve) — diz o presidente do Rio Ônibus.



 Enquanto isso, não apenas moradores sofrem com os percalços para chegarem aos seus destinos. Turistas também sentem os reflexos da falta dessas linhas, uma vez que ambas faziam a ligação para alguns dos principais pontos turísticos da cidade, como o Cristo Redentor, o Pão de Açúcar e as praias da Zona Sul.




 — É fato que o fim das linhas prejudicou enormemente quem tem que se deslocar para o Jardim Botânico ou para a Urca a partir de Laranjeiras.



 Na falta dos ônibus que circulam pelo Rebouças, é necessário usar outras opções de conduções que acabam aumentando o tempo de deslocamento.



Sem falar que, em alguns casos, é preciso pegar mais de um ônibus para chegar ao destino, aumentando, assim, os gastos com a passagem. Ou seja, os usuários saem perdendo de todas as formas — afirma a advogada Cláudia Melo, moradora de Laranjeiras. 



Ela acredita ainda que a extinção das linhas 581 e 582 pode fazer com que as pessoas utilizem mais (ou voltem a usar) meios de transporte privados, aumentando, assim, o fluxo de veículos nas ruas. — Conheço dezenas de pessoas que trocaram o ônibus pelo carro — diz.



 A professora Carla lembra que o início do ano letivo e a alta temporada tornam o problema ainda mais expressivo e urgente. Por isso, reclamou na Secretaria municipal de Transportes (SMTR).



 — Até o momento, a informação que recebi, assim como outros moradores que vêm protocolando queixas, foi a de que as linhas não foram extintas e que meu protocolo será encaminhado para o Setor de Fiscalização — comenta Carla. Procurada, a SMTR diz que a responsabilidade pelas linhas é do Consórcio Intersul.



 Em nota, o consórcio informa que as reclamações dos passageiros sobre as linhas 581 e 582 são uma consequência direta da crise que o setor vem enfrentando com os dois congelamentos consecutivos da tarifa em 2017 e 2018.



Com o fechamento da São Silvestre, acrescenta, o consórcio acionou um plano de contingência, que está limitado devido aos impactos sofridos pelo setor.



Ainda segundo a nota, a incorporação das linhas por outras empresas pressupõe a compra de novos ônibus e contratação de funcionários, medidas que são dificultadas diante do cenário de desequilíbrio econômico enfrentado pelas empresas. Com o fim da Transportes São Silvestre, os usuários da linha 580 (Largo do Machado x Cosme Velho) também foram afeados ao perderem o desconto da integração com o metrô.

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