Pacientes sofrem em farmácia do estado
por Geraldo Ribeiro
21/06/18 - 04h30
RIO - O drama dos pacientes que dependem de medicamentos fornecidos pelo estado parece não ter fim. A falta de itens na Rio Farmes, a farmácia do governo, aumenta o sofrimento das pessoas que não têm condições de pagar por medicamentos especiais. É o caso da esteticista Solange Cunha, de 51 anos, moradora de Santa Cruz, na Zona Oeste. Há dois anos em tratamento de artrite reumática, ela deixou ontem a farmácia, na Cidade Nova, sem as caixas do remédio Tocilizumabe de 20ml, que ajuda a combater a doença.
— Falaram que está em falta desde segunda-feira, e que não há previsão de quando vai chegar. Mandaram ficar ligando. Como não existe um substituto, o que vou fazer é tomar um anti-inflamatório, um remédio para dor e evitar ao máximo me machucar. O jeito é ter cautela para não causar um dano ainda maior à minha saúde — lamentou.
Segundo Solange, numa farmácia comum, o medicamento, que vem com quatro doses, custa R$ 3,5 mil. Ela toma uma dose por semana. Sem poder trabalhar por conta da doença, sua única fonte de renda vem do marido, que trabalha com vendas e ganha R$ 1,5 mil por mês.
Solange contou que ano passado, quando tomava o remédio Metrotexato, chegou a ficar quatro meses sem recebê-lo. Quem também saiu sem o principal item da receita médica foi aposentado George de Lima Passos, de 52 anos, morador em Jacarepaguá. Em tratamento contra a retocolite ulcerativa, uma doença inflamatória intestinal, ele depende do Mesalazina 400mg em comprimidos e supositórios, ambos em falta. O paciente voltou para casa apenas com o Azatioprina 50mg, anti-inflamatório. Sem os remédios, ele prevê dias de sofrimento pela frente. A distribuição dos medicamentos é irregular há cerca de um ano.
— Sem a medicação, não tenho como controlar o intestino. É uma falta de respeito e de consideração com quem precisa — reclamou o paciente.
A diarista Maria José Miguel, de 44 anos, moradora de Ramos, também foi buscar o medicamento para a irmã Maria das Graças, de 45, que sofre da mesma doença. Ela contou que, quando tem crises mais graves, a irmã precisa ficar internada, como aconteceu na última terça-feira.
RISCO DE VIDA
Segundo Thayane Alves, conselheira da Associação dos Portadores de Doenças Inflamatórias do Rio de Janeiro, os cerca de 400 associados da entidade, todos com retocolite ulcerativa ou doença de Crohn, que atacam o intestino, sofrem com a falta de Mesalazina e Azatioprina. O primeiro está em falta desde 2016. O mesmo ocorre com o Sulfassalazina, também usado pelos pacientes. Já o Azatioprina só eventualmente é encontrado na farmácia do estado.
— Muitos pacientes têm entrado em crise pela falta do medicamento, podendo até morrer de complicações decorrentes da doença — afirmou Thayane.
A Superintendência de Assistência Farmacêutica e Insumos Estratégicos da Secretaria estadual de Saúde informou que o Tocilizumabe é fornecido pelo Ministério da Saúde e que está aguardando a entrega. A Mesalazina deve chegar na primeira semana de julho. O fornecedor do Sulfassalazina atrasou a entrega e já foi notificado pelo estado.
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