Cortes anunciados pela prefeitura preocupam pacientes de unidades de saúde



José Caetano com a receita de um medicamento em falta no CMS Hamilton Land, na Cidade de Deus Foto: Emily Almeida 

RIO — O plano de reestruturação da Atenção Básica da Prefeitura do Rio, anunciado há duas semanas, inclui o corte de 184 equipes atuantes em Clínicas da Família em diferentes áreas da cidade. Na Área de Planejamento 4.0 (AP4) — que inclui Barra, Jacarepaguá e Cidade de Deus —, serão 36 equipes, resultando numa redução de 28,34% do pessoal. Às vésperas das demissões, profissionais e pacientes temem piora no atendimento, já precário em muitos aspectos.
A nossa equipe percorreu unidades de saúde da região na quarta-feira da semana passada. Em todas havia queixas. Às 7h, uma hora antes da abertura do Centro Municipal de Saúde (CMS) Hamilton Land, na Cidade de Deus, a auxiliar de limpeza Ana Beatriz Belarmino de Souza, de 20 anos, entrou na fila para tentar garantir a realização de um exame de sangue. Às 9h15m, continuava esperando. Explicava que isso é comum.


— Pelo menos aqui sempre conseguimos atendimento — contou.
Ana Beatriz também vai ao CMS para buscar pílula anticoncepcional e fazer exames de rotina. Sua mãe e sua avó são atendidas em casa, mas o serviço é irregular:
— As visitas não são frequentes. Os médicos vão quando querem e não procuram saber se precisamos de alguma coisa quando não vão. Minha mãe precisa fazer um exame nas mamas e ainda não conseguiu marcar. Da minha avó, de 85 anos, só medem a pressão.
José Caetano, de 80 anos, foi ao mesmo CMS tentar, mais uma vez, conseguir dipirona de 500mg. O remédio lhe fora recomendado dez dias antes.
— Não sei por que não consegui — disse.
A SMS afirma que a “adequação ajusta a oferta de serviços à necessidade real de cada região da cidade, uma vez que o estudo demonstrou que a população mais pobre e que conta com menor infraestrutura de serviços públicos estava contando com menos equipes para o atendimento”. O diretor Sindicato dos Médicos, Alexandre Telles, no entanto, afirma que a situação tende a se agravar em áreas com baixo Índice de Desenvolvimento social (IDS).
— Em vez de a secretaria expandir a atenção na Cidade de Deus, por exemplo, vai cortar ainda mais os atendimentos — reclama. — Isso vai impactar diretamente em cuidados primários como pré-natal e na prevenção e no tratamento de doenças como tuberculose, Aids, hanseníase, hipertensão e diabetes
No Anil, a persistência dos pacientes da Clínica da Família Barbara Mosley de Souza também não é garantia de obter medicamentos. A aposentada Rosa Ancelmo de França, de 65 anos, tentava, pela quarta vez, obter remédios de uso contínuo para diabetes, hipertensão e osteoporose. Em último caso, planejava pedir uma nova receita, para comprá-los pelo programa Farmácia Popular.
— Tudo tem piorado, e está difícil conseguir remédio. Mas o atendimento é uma maravilha, porque as agentes de saúde são muito boas — diz ela, que teme os cortes anunciados pela prefeitura. — Dizem que vão reduzir o número de médicos, e aqui estamos precisando de atendimento para jovens, crianças, idosos. Os agentes de saúde passam sufoco para receberem o salário. Houve um mês em que pensei que a clínica ia fechar.
A SMS afirma não haver falta generalizada de medicamentos na rede. Quanto ao salário, diz que o do mês de outubro deve ser pago até a próxima quarta-feira.

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