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Cariocas que dependem dos ônibus relatam dura realidade, que contrasta com afirmações de Crivella

Propaganda enganosa: Ônibus em Campo Grande circula com as janelas abertas, apesar de divulgar climatização Foto: Guilherme Pinto / Agência O GLOBO
Propaganda enganosa: Ônibus em Campo Grande circula com as janelas abertas, apesar de divulgar climatização Foto: Guilherme Pinto 
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RIO — Apesar de o prefeito Marcelo Crivella ter dito na terça-feira que os cariocas estão satisfeitos com o serviço de ônibus na cidade , apresentando como base uma pesquisa de 2017, nas ruas a realidade é outra. Durante seis horas, duas equipes do GLOBO entrevistaram 24 passageiros em bairros das zonas Oeste e Sul, para saber a opinião deles sobre o transporte. Todos fizeram críticas. As mais recorrentes foram falta de ar-condicionado e problemas na conservação dos veículos.
A auxiliar administrativa Débora Bustilho, de 34 anos, que usa a linha 801 (Bangu-Taquara) para ir de casa ao trabalho, contou que os ônibus até tinham ar-condicionado, mas foram substituídos por outros sem climatização:
— Os ônibus com ar passaram para a linha 803. Eu moro em Bangu, um bairro que é superquente, onde a temperatura passa sempre dos 40 graus. Tem que ter ar-condicionado. Se a gente paga uma passagem de R$ 4,05, tem que ter — desabafa a passageira, citando o valor da tarifa que entra em vigor .
Em Santa Cruz, onde os termômetros também estão sempre nas alturas, todos os ônibus que estavam parados quarta-feira no terminal da Rua Álvaro Alberto eram quentões. Em Campo Grande, um aviso nas janelas dos coletivos engana os passageiros. “Mais um ônibus com ar-condicionado” diz o adesivo, mas, quando o usuário sobe a escada, ele se sente numa sauna. A cena se repete do outro lado da cidade, no Largo do Machado, com os passageiros da linha 422 (Grajaú - Cosme Velho).
. Foto: Marcos Ramos e Guilherme Pinto / Agência O GLOBO
. Foto: Marcos Ramos e Guilherme Pinto / Agência O GLOBO

Turista sofre

O calorão a bordo pode ser um transtorno ainda maior para quem visita a cidade. Na linha 580 (Cosme Velho-Largo do Machado), um veículo circulava quarta-feira com todas as janelas fechadas, exceto uma. Ao lado dela, uma jovem se inclinava para tentar ficar mais perto da pequena abertura. Era a turista polonesa Kashira Stocka, de 31 anos, a caminho do Cristo Redentor, que havia embarcado por acreditar que aquele ônibus tinha ar-condicionado. Até tinha, mas também estava sem funcionar. Onde ela mora, a temperatura estava na quarta-feira em torno de um grau.
— O Rio é muito, muito quente. Acho que o ar está desligado, porque está muito abafado aqui dentro — disse a estrangeira.
Além do calor, a falta de manutenção dos ônibus também é alvo de críticas. Passageiros da linha 840 (Campo Grande-São Fernando) relataram que o elevador de acesso para cadeirantes não funciona nos veículos. Na quarta, um veículo da linha 804 bateu num poste na Rua Campo Grande após sua roda travar numa curva.
Na linha 498 (Penha-Largo do Machado), faltam desde assentos até vidros nas janelas. O passageiro que pegou quarta-feira o 434 (Grajaú-Siqueira Campos) ficou sem entender por que havia um barbante amarrado na roleta. A “interdição” foi feita devido a um defeito num dos validadores do bilhete eletrônico.
E o desconforto de quem viaja de ônibus pode ir além. Moradora do Flamengo, a professora Suelen Santos, de 28 anos, se queixa das baratas que passeiam pelos veículos que ligam as zona Norte e Sul.
— O que falta de ar-condicionado sobra de baratas e de sujeira nos ônibus que vão para Vila Isabel. Já perdi a conta das vezes em que quase subiram na minha perna — denunciou.

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