Combater o desmatamento é possível. E necessário.
O equivalente a 40 campos de futebol de florestas tropicais foi perdido a cada minuto em 2017. Apesar de todos os avanços das empresas comprometidas com a redução do desmatamento em suas cadeias de fornecimento, a produção agrícola comercial de produtos como óleo de palma, soja e carne bovina continua sendo a maior causa da perda de florestas. E para as mais de 470 empresas líderes de diversos setores que firmaram um compromisso, o tempo está se esgotando.
Então, aqui estamos no início de 2019, apenas um ano antes de 2020. O que pode ser feito?
Sabemos que não há balas de prata. Os sinais do mercado e as abordagens da cadeia de suprimentos, que aumentaram a conscientização sobre tal questão em nível global, são uma pré-condição vital para a produção de commodities sem desmatamento; eles criam os incentivos e o mercado puxa a cadeia de valor dos produtores para os consumidores.
Os esquemas de certificação continuam a desempenhar um papel importante e, para produtos como óleo de palma e madeira, estes já transferiram 20% da produção para métodos mais sustentáveis. Grandes avanços também foram feitos na rastreabilidade e transparência, bem como na adoção de novos mecanismos financeiros e de outros compromissos do lado da demanda (a Declaração de Amsterdã). Mas ainda estamos perdendo florestas.
Como podemos acelerar o progresso para garantir cadeias de fornecimento livres de desmatamento? Abordagens jurisdicionais poderiam ser a resposta.
Um número crescente de ONGs, governos e empresas está voltando sua atenção para as paisagens florestais, com o objetivo de apoiar abordagens sistêmicas que possibilitem a produção de commodities juntamente com a proteção de florestas. Um dos principais valores dessas abordagens é reconhecer que existem múltiplos impulsionadores da perda florestal e que, reunindo todas as partes do sistema – incluindo governança, cadeias de valor e comunidades – tem-se uma chance maior de reduzir a perda florestal, melhorar os meios de subsistência e permitir a produção sustentável.
Cada paisagem é diferente e não há uma fórmula definida. Precisamos apreciar a diversidade de geografias, culturas, sistemas de produção e diferentes níveis de governança. Precisamos buscar incentivos como financiamento climático, melhores serviços de extensão e acesso a mercados e estratégias integradas voltadas para a totalidade do problema, incluindo governança de recursos naturais, planejamento do uso da terra, melhoria dos métodos de produção e mudança da demanda. Simplificando, os esforços de desmatamento têm um potencial muito maior se várias estratégias, baseadas na colaboração público-privada, forem combinadas.
Avançando grandes ideias para grandes ações
Há um impulso cada vez maior em torno da definição e entrega de abordagens paisagísticas – sejam jurisdicionais, organizadas em torno de fronteiras locais de governança, ou em ecorregiões inteiras. E há um aumento na amplitude do interesse das partes interessadas, incluindo governos locais e nacionais, empresas e instituições financeiras e, o mais importante, constituintes e parceiros locais.
Começam a surgir resultados promissores por meio de uma combinação de fatores, incluindo governança voluntária, cadeias rastreáveis de suprimentos importantes, forte envolvimento da comunidade e dos agricultores, financiamento acessível e opções de subsistência.
Aqui há alguns exemplos promissores. No Cerrado do Brasil, para reduzir a conversão dessa floresta mista e savana, ONG e parceiros se uniram para desenvolver um Manifesto para a mudança. Produtores e comerciantes estão colaborando para gerar soluções; os compradores da soja cultivada lá assinaram uma declaração de apoio e usam sua demanda para incentivar os produtores, comerciantes e fazendeiros; as instituições financeiras estão redirecionando seus recursos e os governos de algumas jurisdições estão ansiosos para encontrar soluções. Ainda há um caminho a percorrer, mas a parceria e o diálogo estão abrindo novas possibilidades.
Por trás de ações como esta, há parcerias entre empresas, governos e a sociedade civil, como a Tropical Forest Alliance (TFA), criada para ajudar o Consumer Goods Forum e outros atores do setor privado a cumprir as metas da cadeia de fornecimento, por meio de parcerias privadas, priorizando os programas de paisagem daqui para frente.
Novas iniciativas paisagísticas exigirão que as empresas se envolvam mais profundamente no terreno do que é típico, seja através de investimentos financeiros, comprometendo contratos de longo prazo; de parcerias técnicas e compartilhamento de dados; de expertise e capacidade em serviços de extensão; e de melhores práticas de gestão. Os casos de negócios para esses tipos de investimentos ainda estão surgindo, mas fica claro que essas iniciativas podem melhorar o ambiente operacional (por exemplo, riscos de governança, legalidade e desmatamento) e a confiabilidade do suprimento desses bens comercializados globalmente ao longo dos anos e décadas.
As abordagens da paisagem não são uma mágica – em particular, são geralmente estratégias de longo alcance contra ameaças, às vezes, iminentes. No entanto, eles forçam os atores a medir o sucesso na escala do problema do desmatamento, a serem criativos no alinhamento de metas dos setores público e privado e a apoiarem plataformas e soluções locais que façam sentido em uma determinada geografia. Eles não substituem as ações corporativas para garantir que suas próprias cadeias de suprimentos sejam sustentáveis, mas são um poderoso complemento.
É preciso agir com urgência. 2019 pode ser o ano em que essas diversas abordagens poderão acelerar o progresso e garantir cadeias de fornecimento livres de desmatamento. E assim, salvar as florestas.