Estudo estima em R$ 43 bi a contribuição econômica dos polinizadores

. (Mark Stone/University of Washington/Divulgação)
O serviço ecossistêmico prestado pelos animais polinizadores à agricultura brasileira contribuiu com um valor econômico estimado de R$ 43 bilhões em 2018. A estimativa se refere ao valores que seriam gastos pelos agricultores caso os polinizadores não contribuíssem para a produção de alimentos. O cálculo foi feito pela Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (BPBES) e pela Rede Brasileira de Interações Planta-Polinizador (Rebipp), que lançou hoje (14) o Relatório Temático sobre Polinização, Polinizadores e Produção de Alimentos no Brasil, junto com o Sumário para Tomadores de Decisão.
A coordenadora do estudo, Kayna Agostini, professora da Universidade Federal de São Carlos, explica que o trabalho foi feito por 12 pesquisadores de todo o país, com o levantamento de mais de 400 publicações, e o resultado foi submetido a 11 revisores externos. Segundo ela, o valor é estimado pelos serviços que os polinizadores prestam às culturas para a produção de alimentos.
“Por exemplo, a cultura do maracujá, para a produção de fruto, precisa que uma abelha, a mamangava, de grande porte, visite uma flor e leve o pólen para o estigma de outra flor, que é a parte feminina. Só assim começa a produção do fruto. Se não houver o transporte do pólen pela abelha, o fruto não é formado e é necessário que o produtor contrate pessoas para fazer a polinização manual, esfregando a mão em uma flor e levando o pólen para a outra”.
É o primeiro levantamento deste tipo no Brasil tornando o país o primeiro a cumprir a recomendação da Plataforma Intergovernamental de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES), da Organização das Nações Unidas (ONU). O relatório mundial sobre polinizadores e produção de alimentos foi lançado em 2016, sugerindo que os países elaborassem seus estudos locais sobre o tema.

Polinizadores e produção

O levantamento econômico considerou 67 cultivos. A soja responde por 60% do valor estimado, seguida pelo café (12%), laranja (5%) e maçã (4%). A parte biológica do estudo mostra que do total de 191 culturas agrícolas do país, 114 (60%) são visitadas por polinizadores e de 91 cultivos que são dependentes desse serviço ecossistêmico, em 69 (76%) a ação dos polinizadores aumenta a quantidade e/ou a qualidade da produção. Segundo as pesquisas, a presença do polinizador pode aumentar a produção de soja em 30%. “Isso é muita coisa e reverte num valor para o produtor muito grande”, diz Kayna.
Ela destaca também que os polinizadores nativos são “muito mais eficientes que os introduzidos, como a abelha europeia” e que eles proporcionam uma diferença de até 200 gramas em um fruto, “o que faz muita diferença no preço de prateleira para o produtor”. “Então esse cálculo é estimado pelo serviço que os polinizadores fazem para a produção de alimentos. Se eu não tiver esse polinizador, quanto o produtor vai ter que gastar para que ocorra a formação desses frutos, desses grãos”, diz a pesquisadora.
O relatório destaca, ainda, que a polinização é essencial para 35% das culturas analisadas, 24% delas têm uma dependência alta, em 10% a dependência é modesta e pouca para 7% das plantas.
No Brasil, mais de 600 espécies de animais visitam as produções agrícolas, sendo que pelo menos 250 têm potencial de polinização. Os principais polinizadores são as abelhas, com 66% das espécies, e também constam na lista besouros, borboletas, mariposas, aves, vespas, moscas, morcegos e percevejos. As abelhas participam da polinização de 80% das plantas cultivadas ou silvestres, sendo polinizadores exclusivos de 65% delas.

Riscos e oportunidades

Kayna destaca que o relatório aponta os riscos que os polinizadores estão sofrendo, como perda de habitat, mudanças climáticas, poluição ambiental, agrotóxicos, espécies invasoras, doenças e patógenos.
“Os riscos são diversos, entre eles os agrotóxicos. É cada vez mais preocupante, agora em janeiro acabou de ter a legalização de 28 moléculas que são extremamente tóxicas e fazem mal para os polinizadores. Outra coisa que faz mal é a fragmentação de habitat, você perder habitat nativo para que esses polinizadores fiquem próximos à produção de alimentos. Isso é muito chocante no Brasil”.
Em contrapartida, a pesquisa lista as oportunidades que devem ser aproveitadas. “Se você tem uma agricultura extensiva e coloca diversos tipos de plantas no corredor, você está oferecendo mais alimentos para os polinizadores, atraindo mais polinizadores para o local. Com relação ao agrotóxico, o que a gente sente falta é de medidas mitigadoras. Eu coloquei o agrotóxico, mas o que eu posso fazer para resolver essa situação? Quais são as doses reais que eu tenho que aplicar? A gente vê que não existe muito um controle sobre isso”, diz Kayna.
A plataforma BPBES foi lançada em 2017, com o objetivo de elaborar o Diagnóstico Brasileiro sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos, o primeiro do gênero voltado para subsidiar o processo de decisões ambientais no Brasil.
O documento foi lançado em novembro, mas a BPBES continuou preparando relatórios temáticos.
Além do diagnóstico dos polinizadores, já foi lançado o Potência Ambiental da Biodiversidade: um caminho inovador para o Brasil, em parceria com o Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas, que aborda o tema das Mudanças Climáticas. Os próximos a serem lançados serão Restauração de paisagens e ecossistemas; Água: biodiversidade, serviços ecossistêmicos e bem-estar humano; e Contribuição dos povos indígenas e comunidades locais tradicionais par a biodiversidade brasileira. Todos os relatórios podem ser acessados no site da BPBES.

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